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A infraestrutura ferroviária e as potencialidades do Espírito Santo no escoamento de grãos


por Carolina Ferreira e Lucas Araújo

A produção de grãos possui peso relevante na economia brasileira e representa um dos principais produtos da pauta de exportação do país. Estes grãos contam com a cadeia logística nacional desde seu armazenamento até seu transporte aos principais portos brasileiros, de onde partem para abastecer o mercado global. O Espírito Santo está em uma das rotas de escoamento de grãos para a exportação, apesar do estado não se caracterizar como um produtor nacional. Neste sentido, a produção que passa pelo estado tem como origem, em sua maioria, os estados de Minas Gerais, Goiás e Mato Grosso. Para chegarem aos portos capixabas, os grãos utilizam o transporte ferroviário através do Corredor Centro-Leste, que liga Goiás ao Espírito Santo, utilizando a Ferrovia Centro-Atlântica (FCA) e a Estrada de Ferro Vitória-Minas (EFVM).

Figura 1 – Corredor ferroviário Centro-Leste entre os estados de Goiás, Minas Gerais e Espírito Santo

Elaboração: Ideies / Findes

Dos grãos brasileiros destinados à exportação, destacam-se o milho, a soja e o farelo de soja. Segundo dados da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO), desde 2017 o Brasil se consolidou enquanto o principal fornecedor de soja do mundo, ultrapassando, inclusive, a soja exportada pelos Estados Unidos, então principal exportador do grão.

Gráfico 1 – Evolução da quantidade exportada de soja em milhões de toneladas, Brasil e Estados Unidos da América, 2010 a 2020

Fonte: FAOSTAT / ONU (2022) Elaboração: Ideies / Findes

Em 2021, as exportações brasileiras de soja, milho e farelo de soja, somadas, aumentaram em 131% em relação à 2010. Além do aumento das exportações impactar na balança comercial do país, os complexos portuários de onde estas cargas partem rumo ao exterior também absorvem ganhos econômicos significativos. Mas quanto destes grãos são exportados a partir do Espírito Santo?

Segundo dados do Ministério da Economia, ao longo dos últimos 12 anos o porto de Santos se destacou enquanto o mais importante no escoamento de grãos, oscilando em torno de 30% das exportações brasileiras destes três grãos. Os 70% restantes são exportados por especialmente 10 portos brasileiros, estando Vitória entre eles.

Gráfico 2- Distribuição das exportações de milho, soja e farelo de soja por porto, 2021

Fonte: Comexstat / Ministério da Economia (2022) Elaboração: Ideies / Findes

No entanto, embora o Espírito Santo esteja representado neste grupo de portos, o estado vem perdendo participação no montante nacional. Enquanto o Brasil exportou em 2021 cerca de 70 milhões de toneladas de grãos a mais do que em 2010, a quantidade destes grãos que foram exportados a partir do Espírito Santo no mesmo período se manteve quase estagnada. Em 2010 saíam por portos capixabas cerca de 4,97 milhões de toneladas de grãos, e em 2021 foram 4,81 milhões de toneladas. Em outras palavras, o expressivo crescimento brasileiro foi absorvido por outros portos, implicando em perdas para o Espírito Santo.

O Gráfico 3 apresenta a participação do estado como um percentual do total exportado pelo país. Em 2010 aproximadamente 12,2% do milho destinado ao mercado externo era exportado a partir do Espírito Santo, proporção que foi reduzida para apenas 1,5% em 2021. Para as exportações de soja, esta participação reduziu de 8,2% para 4,9% no mesmo período. Já para o farelo de soja, a participação reduziu de 9,3% para 1,4%.

Gráfico 3 – Evolução da participação portuária do Espírito Santo no volume das exportações brasileiras de milho, soja e farelo de soja, 2010 a 2021

Fonte: Comexstat / Ministério da Economia (2022) Elaboração: Ideies / Findes

Desta forma, nota-se que uma quantidade relevante de grãos deixou de passar pelo Espírito Santo neste período. Somando-se os três grãos, de 2010 até 2021 a participação do estado reduziu de 9,3% para 3,9%. Uma maneira de estimar o quanto esta porcentagem representa em toneladas é aplicando, em 2021, a mesma participação percentual que o estado apresentava em 2010. O Gráfico 4 representa esse exercício. A linha cheia representa a quantidade de grãos que foram exportados a partir do porto capixaba entre 2010 a 2021. Já a linha tracejada apresenta qual teria sido a quantidade de grãos a passar pelo Espírito Santo em 2021 caso a participação do estado fosse mantida no mesmo patamar desde 2010 (9,3%). Desta forma, em 2021 poderiam ter passado pelo Espírito Santo cerca de 11,5 milhões de toneladas de grãos. No entanto, passaram apenas 4,81 milhões de toneladas, o que representa uma perda de 6,7 milhões de toneladas. Já durante todo o período, mantendo-se os níveis de 2010, a perda acumulada nos 11 anos abordados pode ser estimada em 39,2 milhões de toneladas de grãos que não passaram pelo estado.

Gráfico 4 – Estimação da perda da participação portuária do Espírito Santo no volume das exportações brasileiras de milho, soja e farelo de soja, 2010 a 2021

Fonte: Comexstat / Ministério da Economia (2022) Elaboração: Ideies / Findes

Esta perda no volume de exportações representa perdas econômicas para o estado, uma vez que infraestruturas logísticas mais complexas têm capacidade de gerar mais emprego e renda nos setores de transporte, atividades portuárias e armazenagem. Nota-se que, historicamente, a falta de investimento na infraestrutura ferroviária e portuária do Espírito Santo tem gerado impactos no nível de competitividade do estado, à exemplo da perda da participação capixaba frente a outros portos brasileiros nas exportações de grãos. No entanto, apesar dos gargalos logísticos, o Espírito Santo foi capaz de atrair investimentos de relevância nacional em termos portuários, tais como os projetos da Imetame, do Porto Central e da Petrocity, além do processo de desestatização da Codesa, pioneiro no país. A ampliação do complexo portuário considerando estes projetos tem elevado potencial de diversificação da pauta exportadora do estado, especialmente a partir da operação de navios de longo curso, que hoje operam principalmente no Complexo de Tubarão devido às restrições de calado na baía de Vitória.

Já no setor ferroviário, destacam-se os seguintes projetos: duas malhas ferroviárias sob concessão da Petrocity (que em conjunto buscam ligar Brasília à São Mateus); extensão da malha ferroviária sob concessão da Vale (primeiro ligando Cariacica à Anchieta, e posteriormente conectando Anchieta à Presidente Kennedy); e renovação da concessão da Ferrovia Centro-Atlântica, fundamental e indispensável à competitividade do estado no mercado de exportações de commodities agrícolas. Ainda, existe o projeto de recuperação do trecho que liga o estado ao Rio de Janeiro, também vinculado à renovação da FCA.

A respeito da renovação da concessão da FCA, destaca-se que a Findes vem exercendo papel primordial na defesa dos interesses do estado a partir da apresentação, ao governo Federal, de estudos que contemplam não apenas elementos direcionados ao transporte ferroviário em si, mas à toda a gama de fatores econômicos e socialmente interligados a este setor. Dentre estes estudos, destaca-se aquele que argumenta em prol de investimentos adequados no Corredor Centro-Leste, especialmente a partir da construção de um contorno na Serra do Tigre. Em um relatório encomendado pela Findes à Fundação Dom Cabral, considera-se que a completude desse projeto poderá ampliar o volume de passagem de cargas no estado em até 18,6 milhões de toneladas de grãos[1].

Assim, à exemplo do papel do Espírito Santo na pauta nacional de exportação de commodities agrícolas, a expansão da participação do estado no mercado global segue especialmente limitada por sua infraestrutura logística.  Por isso, o conjunto de vantagens competitivas relacionadas a estes projetos de infraestrutura são parte relevante da justificativa de pleito por investimentos adequados no Corredor Centro-Leste, capaz de integrar o setor produtor ao exportador de forma mais eficiente e posicionar o estado entre os principais players deste mercado.

[1] O Estudo “Corredor Centro-Leste: Solução Competitiva para a Logística Nacional” foi encomendado pela Findes junto à Fundação Dom Cabral com o intuito de estimar o volume de mercadorias com potencialidades de serem escoadas em portos no Espírito Santo.

Carolina Ferreira é Mestre em Economia pela UFES e Analista do Ideies.

Lucas Araújo é Economista, Doutor pela UFF e analista do Ideies.

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1 Comment on "A infraestrutura ferroviária e as potencialidades do Espírito Santo no escoamento de grãos"

  1. Saudações aos autores! Em dezembro de 2023, aparenta ser bem improvável que a FCA faça investimentos de R$ 4 bi (estimado para o contorno da Serra do Tigre) para otimizar o escoamento de grãos por portos do ES; em especial quando a ociosidade da malha chega a preocupantes 75% (dados do TCU). Sem falar na tendência de escoamento de grãos do centro-oeste via “calha Norte”! Os esforços políticos do ES são louváveis, porém há que se considerar os interesses privados cruzados (Vale S.A. e outros). Abraços!

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