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Biotecnologia: a Ciência do Terceiro Milênio


por Taíssa Soffiatti

A biotecnologia está presente na vida da humanidade desde os anos 6.000 A.C, com a utilização dos processos fermentativos da cerveja e do vinho. Um marco importante no desenvolvimento da biotecnologia foi a produção dos antibióticos a partir da década de 1940 e a produção da insulina humana em 1982. Mesmo fazendo parte da evolução humana, a biotecnologia é vista por muitos como um termo complexo e de difícil entendimento.


Elaboração: Findes / Ideies
Fonte: Villen, R. A.[1]

A OCDE[2] define a biotecnologia como a aplicação de ciência e tecnologia para organismos vivos, assim como às suas partes, produtos e modelos, com o objetivo de alterar materiais vivos ou não vivos para a produção de conhecimento, bens e serviços. Com isso, os avanços relacionados à biotecnologia englobam diferentes áreas de conhecimentos e perpassam diversos setores econômicos.

As aplicações de biotecnologia estão, em grande maioria, presentes nas grandes áreas do agronegócio, saúde e meio ambiente. No agronegócio as formas mais comuns de aplicabilidade são na seleção e na reprodução de espécies, no aumento e na melhoria da produtividade, sendo animal ou agrícola, e no controle biológico de pragas e doenças.

No âmbito da saúde a biotecnologia atua, por exemplo, nos segmentos de fármacos e nos dermocosméticos, ambos com inúmeras aplicações. Algumas delas estão relacionadas à redução de efeitos colaterais, redução no tempo do tratamento, multitratamentos em um único produto, aumento na eficácia e na pureza das substâncias, tratamento interligado ao bem estar, entre outros. Além disso, as aplicações biotecnológicas e nanotecnológicas têm avançado muito no campo de diagnósticos e tratamentos de doenças.

No horizonte ambiental a biotecnologia extrapola diversos setores, desde o tratamento/reutilização da água, passando pelas soluções sustentáveis residenciais, industriais e energéticas, até a redução/reutilização do lixo. Dessa forma, evidenciamos uma das principais características associadas a biotecnologia: a transversalidade dentre diferentes ambientes econômicos.

Fonte: Findes / Ideies

O Brasil conta com um enorme potencial para inovação e aplicação da biotecnologia, considerando a ampla biodiversidade da natureza. Nosso país possui vasta diversidade de espécies vegetais, o que facilita a obtenção de substâncias terapêuticas, químicas e alta complexidade de bioma[3]. Isso possibilita a descoberta e criação de estruturas diferenciadas e complexas, algumas com difícil reprodução em laboratório (Pimentel et al., 2015).

Considerando todas as espécies, vegetais e animais, catalogadas no mundo, o Brasil possui a maior quantidade, com 13% do total, e é o segundo colocado em espécies endêmicas[4], atrás somente da Indonésia, de acordo com o estudo de Pimentel (2015). Esta realidade propicia a atração de áreas e atividades econômicas que buscam sistemas produtivos e produtos, baseadas no desenvolvimento sustentável, renovável e circular com intensidade tecnológica.

O Espírito Santo, mesmo com reduzida extensão territorial, é um dos poucos estados que possui, proporcionalmente, uma significativa área de mata atlântica preservada. Há um rico e inexplorado ecossistema que desperta olhares internacionais, em busca de insumos e matérias-primas para o desenvolvimento de processos biotecnológicos. Diversas instituições e pesquisadores vem produzindo estudos, testes e aplicações a partir de espécies da mata atlântica capixaba, alcançando reconhecimento nacional e internacional. Vale destacar algumas descobertas como a aplicação e a utilização da Aroeira em sua totalidade, desde a casca até o óleo da semente, com aplicabilidade nas áreas dermocosmética, perfumaria e gastronomia. Outro exemplo que podemos citar, bem tradicional para o estado, é o café, que além do grão usado no setor de alimentos e bebidas, pode ser utilizado nas indústrias de medicamentos, dermocosméticos e perfumaria.

O fortalecimento de um canal de pesquisa, desenvolvimento e inovação integrado à indústria e órgãos governamentais pode gerar um ambiente facilitador a novas aplicações da biotecnologia. Dessa forma, será possível agregar maior valor aos produtos nacionais e regionais. A tecnologia e a digitalização viabilizaram novas formas de processamento e informações de microorganismos e substâncias, e isso altera os processos produtivos biotecnológicos. Essa disruptura converge para o novo modelo da Indústria 4.0, em conjunto com a chamada bioeconomia. Em síntese, esta é uma nova forma de organização, de negócios e de processo industrial pautado no alto nível tecnológico e eficiência, sem perder o olhar e o cuidado com o meio ambiente e os recursos naturais.


Assim, a biotecnologia moderna trata de uma tecnologia estratégica, pois estimula mudanças estruturais na composição das competências centrais das indústrias. Sua adoção e adaptação aumentam a oportunidade de gerar inovações numa ampla diversidade de indústrias tradicionais e emergentes, com potencial de criar uma variedade de novos bens, serviços e atividades, e novos negócios (Bresnahan e Trajtenberg, 1995; HLEG-KETS, 2011; NSTC, 2012; UNIDO, 2013).

Para isso, a interação entre cada agente presente nas cadeias produtivas biotecnológicas precisa ser melhor articulada e compartilhada. Dessa forma, será possível criar um canal de conexão que facilitará o desenvolvimento de pesquisa, descoberta de novas técnicas e substâncias, aquisição e compartilhamento de equipamentos, obtenção de insumos, realização de testes e aplicação das soluções aos processos produtivos e produtos, desde o mais artesanal ao mais tecnológico.

Visando essa sinergia, a Federação das Indústrias do Espírito Santo (Findes) e o Instituto de Desenvolvimento Industrial e Educacional do Espírito Santo (Ideies) , por meio do projeto Indústria 2035, apontaram a Biotecnologia como um dos Setores Portadores de Futuro para o estado. O passo seguinte, já em construção, é a elaboração da Rota Estratégica de Biotecnologia, cujo objetivo é traçar os caminhos – com ações de curto, médio e longo prazo -, que o setor deverá percorrer. Com isso o Espírito Santo se tornará um polo de referência em Biotecnologia com soluções inovadoras e sustentáveis.

No horizonte temporal de até 2035, espera-se contar com um hub de biotecnologia, a fim de integrar os conhecimentos científicos e tecnológicos, estreitar a comunicação e a logística da atividade, otimizar a atuação de seus agentes e aplicar as soluções ao mercado. Estes pontos foram defendidos como primordiais para o Espírito Santo.

 

Referências

BRESNAHAN, T. F.; TRAJTENBERG, M. General purpose technologies ‘Engines of growth?. Journal of Econometrics, v. 65, n. 1, p. 83-108, 1995.

HLEG-KETS. High Level Expert Group on Key Enabling Technologies: final report. European Comission, June, 2011.

NSTC, 2012. A National Strategic Plan for Advanced Manufacturing, Washington, DC: Executive Office of the President of The US.

PIMENTEL, V. et al. Biodiversidade brasileira como fonte da inovação farmacêutica: uma nova esperança?. Revista do BNDES, Rio de Janeiro, n. 43, jun. 2015.

UNIDO, 2013. Emerging trends in in global manufacturing industries, Vienna: United Nations Industrial Development Organization.

VAN BEUZEKOM, B.; ARUNDEL, A. OECD Biotechnology statistics-2009. 2009.

 

Taíssa Farias Soffiatti é analista de Estudos e Pesquisas da Gerência de Estudos Econômicos. (Ideies).

 Os conteúdos e as opiniões aqui publicados são de inteira responsabilidade dos seus autores. O Sistema FINDES (IDEIES, SESI, SENAI, CINDES e IEL) não se responsabiliza por esses conteúdos e opiniões, nem por quaisquer ações que advenham dos mesmos.

 

[1] Retirado de Villen, Rafael. Biotecnologia – Histórico e Tendências. São Paulo.

[2] Retirado de VAN BEUZEKOM, Brigitte; ARUNDEL, Anthony. OECD Biotechnology Statistics-2009. 2009

[3] Bioma: é o conjunto dos seres vivos de uma área. Entendido também como o conjunto de ecossistemas terrestres. É a associações relativamente homogêneas de plantas, animais e outros seres vivos com equilíbrio entre si e com o meio físico.

[4] Espécies endêmicas: é aquela espécie animal ou vegetal que ocorre somente em uma determinada área ou região geográfica, com clima, relevo e recursos específicos. Diferente do que ocorre na maioria das espécies de seres vivos que podem ser encontradas em vários lugares ao mesmo tempo.

 

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