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Um Novo Desenvolvimento Baseado Na Inovação: Lições Da China Para O Brasil I


por Ednilson Felipe

A China, há alguns anos atrás, começou a colocar em prática um audacioso plano de desenvolvimento para implantar no país um novo modelo crescimento econômico. Com as novas diretrizes, os líderes chineses, na prática e de forma pragmática, deram o seguinte aviso ao mundo: o tipo de crescimento anterior, baseado na exploração de mão-de-obra com baixos salários, na venda de produtos baratos e descartáveis, com pouca preocupação ambiental estava encerrado. A partir daquele momento, China passaria perseguir metas mais ambiciosas e a buscar outra forma de se inserir na economia global. Passou a querer cumprir um outro papel diferente do que desempenhou por décadas.

Vale a pena destacar em quais pontos estão assentadas as mudanças pretendidas pela China.

Em primeiro lugar, o plano elencou cinco ações fundamentais e prioritárias que estão sendo fortemente desenvolvidas pela sua política industrial: (i) promover e acelerar a inovação em áreas estratégicas do país; (ii) melhorar a qualidade dos produtos e serviços; (iii) impulsionar técnicas de produção “verdes” e uso eficiente das fontes de energias renováveis; (iv) incentivar a mudança estrutural nas empresas e (v) estimular o investimento em capital humano. Numa só lista, a China reuniu todas as ações que são reconhecidamente as necessárias para qualquer país alcançar novos patamares de desenvolvimento. Antes disso, os propulsores do crescimento chinês eram, de forma geral, o nível interno de consumo, o investimento direto externo, o gasto público e as exportações baseadas num câmbio extremamente desvalorizado. É consenso que o novo rumo apontado está correto.

Em segundo lugar, o plano previu ações para o avanço tecnológico em uma série de setores de alta tecnologia que foram considerados importantes para o futuro. Dentre eles, destacam-se: aviação e aeroespacial; energias renováveis; robótica de alta qualidade; nova geração de tecnologias da informação; engenharia marítima; equipamentos médicos e hospitalares avançados; agricultura, etc. Gradualmente a China passou a diminuir sua dependência tecnológica dos países avançados e reduziu brutalmente a reprodução de bens com propriedade intelectual externa. Mas ainda é desafiadora a missão chinesa de criar autossuficiência tecnológica nesses setores, o que implicaria, num curtíssimo prazo, aumentar a capacidade inovativa e produtiva das empresas locais.

Em terceiro lugar, ao invés de apenas indicações de intenções vagas, o plano estabeleceu uma série de metas para 2020 e 2025 e incluem gastos com pesquisa e desenvolvimento; número de patentes registradas; taxas de cobertura de banda larga; taxas de difusão de automação, reduções na intensidade de energia e emissões de CO2, e assim por diante. A estratégia se mostra correta, uma vez que, ao estabelecer metas, tornou a efetividade do plano mensurável ao longo do tempo. O investimento em Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação em relação ao PIB chinês, por exemplo, saiu de 0,56% em 1996 e alcançou 2,1% em 2016, se aproximando da Alemanha (2,8%) e Estados Unidos (2,7%). O gráfico abaixo apresenta esses dados.

Gráfico 1 – Investimento Chinês em Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação em Relação ao PIB

Fonte: Word Bank – Report Research en development expenditure. 2017

Mas há grandes desafios a serem vencidos: a rápida mudança demográfica observada no país tem contribuído para a relativa escassez de mão de obra, fazendo com que os salários aumentem mais rapidamente do que em outros países asiáticos, colocando, concomitantemente, desafios para que a produtividade chinesa acompanhe os aumentos na remuneração do trabalho. Somado a isso, a diferença salarial entre o trabalhador urbano e rural tem aumentado (OEDC, 2017)[1], o que também revela outros desafios: o de capacitação da mão de obra que chega às cidades em busca de novos postos de trabalho.

Outro desafio está ligado ao fato de que a participação relativa dos produtos de alta tecnológica nas exportações chinesas está estabilizada em torno de 26% desde 2009 (fim da crise mundial) depois de ter saído de 6,5% em 1992 e ter alcançado 30% em 2005 (WORD BANK, 2017)[2]. Isso pode se agravar ainda mais visto que as empresas chinesas passarão a enfrentar barreiras cada vez mais restritivas dada a reorientação que tem guiado a política externa dos EUA sob Trump. A nova postura norte-americana vai certamente criar dificuldades à venda de produtos e componentes de alta tecnologia. Nesse sentido, as dificuldades e disputas estão apenas começando.

O que fica claro é que ao mudar para um modelo econômico que enfatiza a inovação, o crescimento da produtividade, a produção e o consumo ambientalmente corretos, a China aponta que não é mais o lar dos imitadores. Com todos esses desafios a serem vencidos, a nova estratégia chinesa, aos poucos, muda também as regras globais do jogo. Tais novas regras claramente incomodaram a economia americana. Quando se pensa sobre o Brasil, a nova estratégia chinesa lança sobre o país ainda maiores desafios: quanto mais tardia a mudança rumo à inovação e formas ambientalmente mais amigáveis, maiores os desafios a serem enfrentados.

Assim, já que a Alemanha, com sua estratégia de indústria 4.0, inspirou as novas orientações chinesas, esses dois países podem servir de inspiração ao Brasil para também pensar em novos caminhos e novos papéis que pode desempenhar na economia global.

[1] OECD. OECD Economic Surveyes – China. (2017). Disponível em https://www.oecd.org/eco/surveys/china-2017-OECD-economic-survey-overview.pdf. Acesso em 26 ago. 2018

[2] Word Bank – Report Research en development expenditure (2017). Disponível em https://data.worldbank.org/indicator. Acesso em 25 ago. 2018

Ednilson Felipe é professor doutor de economia na Universidade Federal do Espírito Santo.
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