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Como a indústria capixaba está inovando?


por Vanessa Avanci

Os benefícios da inovação para o desenvolvimento da indústria são vastos e vão desde a redução dos custos de produção, a ganhos de eficiência em processos e a abertura de novos mercados, tudo isso contribuindo para aumentar a sua competitividade. Por isso, conhecer o padrão dos processos de inovação que as empresas realizam e identificar as suas principais dificuldades é uma etapa importante para a proposição e validação de ações de apoio à inovação na indústria.

A Pesquisa de Inovação (PINTEC) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) é realizada a cada três anos e tem sido utilizada para construir indicadores nacionais sobre as atividades de inovação da indústria nacional. Porém, a última versão da PINTEC refere-se ao período de 2012 a 2014 e ainda não há uma data para a divulgação dos resultados da nova pesquisa. A defasagem da PINTEC e a dificuldade de obter outros indicadores de inovação tecnológica para as empresas brasileiras e capixabas motivaram a realização da Sondagem Especial com o tema inovação.

No segundo trimestre de 2019, junto à Sondagem Industrial[1], foi realizada uma pesquisa com empresários do Sudeste[2] sobre as atividades inovativas realizadas entre 2016 e 2018 e a percepção com relação aos investimentos em inovação para os próximos doze meses. Os resultados da pesquisa de inovação (link para o relatório completo) refletem a opinião de 80 respondentes[3] para o Espírito Santo e de 703 para o Sudeste.

O questionário da pesquisa de inovação se baseou na PINTEC e na pesquisa de tendências de inovação nas empresas da União Europeia (Innobarometer). Nestas pesquisas o tema inovação é abordado de forma ampla, abrangendo as atividades inovativas que já estão presentes nas rotinas das empresas, não se restringindo apenas às atividades de pesquisa e desenvolvimento (P&D). Neste sentido, foram adotados os conceitos segundo os quais as atividades inovativas são atividades representativas dos esforços da empresa voltados para a melhoria do seu acervo tecnológico e, consequentemente, para o desenvolvimento e implementação de produtos (bens ou serviços) ou processos novos ou significativamente aperfeiçoados. Assim, a inovação se refere ao produto ou ao processo novo para a empresa e não necessariamente novo para o mercado e que pode ter sido desenvolvido pela própria empresa ou adquirido externamente.

As principais perguntas feitas na pesquisa de inovação sobre como as empresas do Sudeste inovaram no período entre 2016 e 2018 foram sobre quais os resultados de seus esforços inovativos (produtos, processos, serviços, modelos de negócios e etc.) e sobre as atividades realizadas (aquisição de máquinas e equipamentos, treinamento, design de produtos, etc.) para este fim. As respostas das empresas levantam questões importantes para o aprimoramento do ecossistema de inovação do Espírito Santo que serão detalhadas a seguir.

A taxa de inovação da indústria

A partir dos resultados da pesquisa, a taxa de inovação foi calculada como a razão entre o número de empresas que afirmaram ter desenvolvido ao menos um dos tipos de inovação (produto, processo, prática de gestão, etc.) no período entre 2016 e 2018 e o total de respondentes. Os resultados da taxa de inovação foram de 88,8% para o Espírito Santo e de 73,8% quanto para o Sudeste. Esses valores podem ser considerados elevados em comparação à PINTEC 2014 (triênio 2012-2014) que apresentou taxa de inovação para o Sudeste de 33,7% e de 38,1% para o Espírito Santo.

Porém, é necessário ponderar que existem diferenças metodológicas importantes entre as duas pesquisas, sendo a principal delas o tamanho da amostra. Além disso, também se deve considerar que o país passou por uma crise econômica no período entre 2016 e 2018, que significou uma queda significativa dos investimentos, e que o cenário interno de elevada incerteza impacta na predisposição das empresas a buscar inovações. Assim, essa taxa de inovação foi um resultado surpreendentemente positivo e sua interpretação exige cautela. Um desdobramento importante para esta pesquisa seria averiguar se essa taxa elevada reflete uma mudança de percepção das empresas com relação à importância das inovações para aumentar sua competitividade no mercado.

Quais os tipos de inovação foram desenvolvidos?

A inovação de produto abrange desde a introdução de um produto novo no mercado até mesmo o aprimoramento de um produto já existente, e foi a forma mais comum de inovar na indústria do Espírito Santo (55,0%)[4]. O segundo e o terceiro lugar entre os tipos de inovação mais comuns entre as empresas capixabas foram as inovações de processo (42,5%) e as práticas de gestão (27,5%). Para o Sudeste, esses também foram os três tipos de inovação usualmente realizados pelas empresas. Notou-se uma grande discrepância nos resultados quanto à inovação no modelo de negócio[5] entre o Espírito Santo (20,0%) e o Sudeste (12,4%).

Gráfico 1 – Taxa de inovação por tipo – (%)

Fonte: Ideies/Findes e CNI.

 

Quais foram as atividades inovativas desenvolvidas?

As atividades mais comuns entre as empresas do Espírito Santo e do Sudeste que implementaram inovações foi a aquisição de máquinas e equipamentos, a segunda foi treinamento e a terceira foi a aquisição de software. Tanto no Espírito Santo, quanto no Sudeste, uma parcela pequena das empresas declararou realizar alguma atividade colaborativa como as parcerias com universidades, institutos de inovação tecnológica (INTs) ou startups e as inovações na área de P&D (adoção de inovação colaborativa, open innovation, dentre outros).

Tabela 1 – Frequência de respostas por tipo de atividade desenvolvida – (%)

Fonte: Ideies/Findes e CNI. Ícones https://www.flaticon.com/

 

Os resultados desagregados por porte[6] das empresas do Espírito Santo indicam que as grandes se destacaram mais no período entre 2016 e 2018 porque a maioria delas realizou uma variedade maior de atividades inovativas. Todas as grandes empresas respondentes afirmaram ter adquirido máquinas e equipamentos, 75,0% delas realizaram treinamentos, 62,5% adquiriram software e 43,8% realizaram atividade de P&D. Além disso, as grandes empresas foram as que mais realizaram parcerias com universidades e institutos de pesquisa ou núcleos de inovação (31,0%) e inovações na área de P&D (25,0%).

 

Gráfico 2 – Frequência de resposta por tipo de atividade inovativa e porte, Espírito Santo – (%)

Fonte: Ideies/Sistema Findes e CNI.

 

As atividades inovativas que as empresas desenvolvem são complementares entre si e podem ser realizadas internamente ou a partir de relações externas com diversos tipos de agentes como fornecedores, clientes, instituições de ensino e pesquisa públicas ou privadas e o governo. Para avançar em processos de inovação mais complexos as empresas precisam estar aptas a contribuir e a buscar colaborações externas para o desenvolvimento de Pesquisa e Desenvolvimento (P&D).

A inovação aberta é um termo que se refere à abertura das empresas para o uso de ideias internas e externas nos seus processos inovativos (Chesbrough, 2003). As motivações das organizações para aderirem à estratégia de inovação aberta seriam os ciclos de aperfeiçoamento de produto mais curtos, a pesquisa industrial, o aumento de custos de desenvolvimento e a escassez de recursos (Gassmann e Enkel, 2004). Com a emergência desse modelo de inovação aberta, salienta-se a importância da diversidade dos relacionamentos externos às empresas para a absorção de conhecimentos que permitam o avanço de desenvolvimento tecnológico para melhoria e adaptação de produtos e processos internos. A relação universidade-empresa, por exemplo, é muito importante por gerar sinergias para o desenvolvimento de inovações com a formação de capital humano e a resolução de problemas complexos em parcerias. No caso brasileiro, por exemplo, já foram estudadas variadas formas de contribuição das instituições de ciência e tecnologia para o desenvolvimento industrial (Rapini, 2007; Albuquerque et al., 2015).

De acordo com a pesquisa de inovação da indústria do Espírito Santo, a principal forma de inovar entre as empresas, para todos os portes, foi a aquisição de máquinas e equipamentos e destacou-se assim, essa como a principal via de modernização tecnológica da indústria. Outra característica importante dos processos de inovação das empresas capixabas identificada nesta pesquisa foi uma discrepância relevante no acesso às universidades, INTs e startups entre as empresas pequenas e médias e as grandes. As grandes empresas do Espírito Santo estão tendo mais acesso às competências de base científica e tecnológica, mas que poderiam beneficiar toda a indústria.

Neste contexto revelado pela pesquisa, as políticas de incentivo à inovação podem contribuir com as empresas capixabas facilitando o acesso a tecnologias modernas, sejam em termos de reduzir entraves burocráticos à importação e/ou através do financiamento da aquisição de novos bens e serviços. Porém, para aumentar as taxas de inovação na indústria capixaba também se faz necessário avançar na integração do ecossistema de inovação local para a geração de novos negócios e o desenvolvimento econômico.

O Findeslab se coloca como um agente viabilizador dessa integração de atores promovendo encontros de negócios e a colaboração, favorecendo a inovação, os novos empreendimentos inovadores, criativos e tecnológicos. Para as empresas, o Findeslab representa um meio para reunir fontes externas de conhecimento e adicionar valor aos seus produtos e processos para gerar uma vantagem competitiva. Para a sociedade, entre os benefícios da formação dessa rede que integra diversos agentes está a possibilidade de criar formas novas e mais eficientes de prestar serviços e melhorar a qualidade de vida do cidadão. A exemplo do que foi dito, um dos desafios lançados no primeiro edital do Programa de Empreendedorismo Industrial do Findeslab está buscando projetos que desenvolvam soluções com o uso de tecnologia para aprimorar a mobilidade urbana, a segurança pública, a assistência social. Neste sentido, cada vez mais a inovação ganha protagonismo no planejamento da indústria do Espírito Santo e se reconhece seu potencial para a geração de renda e empregos, inclusão e sustentabilidade.

 

Referências

ALBUQUERQUE, E. M.; SUZIGAN, W.; KRUSS, G.; LEE, K. (Ed.). Developing National Systems of Innovation – university–industry interactions in the global south. [S.l.]: Edward Elgar Publishing, 2015.

CHESBROUGH, H. The logic of open innovation: managing intellectual property. California Management Review, Berkeley, v. 45, n. 3, p. 33-58, 2003.

GASSMANN, Oliver; ENKEL, Ellen. Towards a theory of open innovation: three core process archetypes. 2004.

IBGE. Pesquisa Industrial de Inovação Tecnológica – Pintec 2014. Rio de Janeiro, 2016.

RAPINI, M. Interação universidade-empresa no Brasil: evidência do diretório dos grupos do CNPq. Estudos Econômicos, v 37, n. 1, p. 211-233, 2007.

 

[1] A Sondagem Industrial é uma pesquisa de opinião empresarial realizada mensalmente pelas federações de indústrias e CNI para monitorar o sentimento dos empresários sobre a evolução da indústria e suas perspectivas em relação ao futuro.

[2] A pesquisa foi feita de forma conjunta pelas federações de indústrias do Espírito Santo (Findes), São Paulo (FIESP), Rio de Janeiro (FIRJAN) e Minas Gerais (FIEMG) e pela Confederação Nacional da Indústria (CNI).

[3] Apenas respostas válidas, ou seja, já excluídos os questionários em branco.

[4] As empresas preencheram o questionário marcando todas as respostas que consideraram válidas, por isso, pode haver mais de uma resposta por empresa e o total, dependendo do indicador, não soma necessariamente 100%.

[5] Alteração na forma pela qual a empresa gera valor para o seu público.

[6] A definição do porte de cada empresa é dada pelo número de empregados. O número de empresas respondentes desta pesquisa não satisfez o critério de amostra mínima por porte para a Sondagem Industrial.

 

Vanessa Avanci é analista de Estudo e Pesquisa do Observatório da Indústria (Ideies)

 

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