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Demanda por Recursos Hídricos Setorial no Espírito Santo


por Vanessa Avanci

O crescimento urbano sem um planejamento eficiente gera impactos significativos no meio ambiente e na disponibilidade dos recursos hídricos nas cidades. Atualmente, o controle da degradação dos recursos hídricos é uma questão muito central para o desenvolvimento sustentável das cidades. As águas estão sujeitas a poluição e escassez, eventos que atingem toda a população que depende direta ou indiretamente dos recursos hídricos, assim, é necessário garantir que o uso seja racionalizado. Os avanços tecnológicos, por sua vez, permitem aumentar a eficiência do uso da água e reduzir os desperdícios nos diversos usos dos recursos hídricos. Essa preocupação se torna um imperativo diante da ocorrência mais frequente de eventos críticos como as secas e inundações nas cidades.

A sucessão de eventos extremos nos últimos anos no Espírito Santo, como as enchentes em 2013, o longo período de escassez de chuvas que se iniciou em 2014 e se prolongou até o verão de 2015 resultando em uma crise hídrica[1], evidenciaram o acentuado grau de vulnerabilidade hídrica do estado. As consequências socioeconômicas da crise hídrica nos municípios capixabas foram desde situações de racionamento de água e problemas de abastecimento de água tratada[2] a impactos significativos também no funcionamento das atividades produtivas.

A demanda por água atende a múltiplos usos: abastecimento humano, dessedentação animal, irrigação, indústria, mineração, geração de energia em termelétricas, etc. Cada finalidade de uso possui características próprias de demanda em termos de retirada, consumo e retorno de água. A vazão de retirada mede o volume de água captada diretamente em corpos hídricos (rio ou curso d’água, reservatório, açude, barragem, poço, nascente e etc.) e representa a demanda de água. A vazão de consumo é a fração da água retirada que não retorna ao corpo hídrico ou ao tratamento de efluentes por ter sido incorporada no produto, evaporada ou indisponibilizada de seu ambiente para reuso ou outros propósitos.

No gráfico, detalham-se as estimativas dos usos dos recursos hídricos (retirada, consumo e retorno) em volume (litros/segundos) entre as múltiplas finalidades no Espírito Santo. A demanda ou vazão de retirada é a soma dos volumes de água consumidos e os retornados ao corpo hídrico e, por isso, está representada pelas barras empilhadas que correspondem aos volumes de consumo e de retorno.

No Espírito Santo, os principais demandantes em 2016 em termos de volume de retirada de água em litros por segundo foram a irrigação (57%), o abastecimento urbano (20%), as termelétricas (13%) e a indústria (5%), como apresentado no gráfico 1. Além do grande volume de retirada de água realizado pela irrigação no estado, esta também foi a atividade que mais consumiu, já que cerca de 80% do valor total retirado pela agricultura não retornou à sua fonte. A indústria foi apenas a quarta finalidade de uso em volume de retirada, com um valor inferior ao dos recursos destinados à agricultura, ao abastecimento urbano e às termelétricas. As atividades com maiores proporções de retorno em relação à sua retirada foram as termelétricas (99%), o abastecimento urbano (80%) e a indústria (69%).

Gráfico 1. Vazões de consumo e de retorno em relação à vazão retirada (l/s) – por finalidade de uso em 2016

Fonte: Dados de demandas hídricas encaminhados pelo (SNIRH/ANA). Elaboração: Ideies/Sistema Findes.

Outra dimensão possível para se detalhar o uso dos recursos hídricos no Espírito Santo é em estimativas de volume total de água consumida em litros por segundo pelos municípios nas múltiplas finalidades, como apresentada no gráfico 2. No Espírito Santo, os dez municípios que consumiram os maiores volumes de recursos hídricos, em 2016, foram São Mateus, Colatina e Rio Bananal. Separando os dados de consumo de água dos municípios pelas suas finalidades de uso, observa-se que eles refletem aspectos da estrutura econômica de cada município.

Gráfico 2. Municípios com maiores vazões de consumo (l/s) total, 2016.

 

Fonte: Dados de demandas hídricas encaminhados pelo (SNIRH/ANA). Elaboração: Ideies/Sistema Findes.

Segundo os dados da Pesquisa Agrícola Municipal (PAM/IBGE) de 2016, esses municípios do gráfico 2 possuem grandes áreas plantadas do café (em grão) Canephora, com destaque para São Mateus, Colatina, Rio Bananal e Vila Valério. São Mateus e Pinheiros também concentram a área plantada de cana-de-açúcar do estado. Em ambos os tipos de cultura, café e cana-de-açúcar, é comum a utilização de irrigação (ANA, 2017b).

Em Linhares, a segunda maior atividade em consumo de recursos hídricos é a indústria de transformação, principalmente pela atividade de fabricação de coque, de produtos derivados do petróleo e de biocombustíveis (cerca de 89% do volume de consumo da indústria de transformação). A demanda por recursos hídricos na indústria é influenciada pelos diferentes tipos de produtos e processos de produção utilizados que fazem com que a relação entre demanda e consumo de água também varie muito entre as atividades industriais. Para o Espírito Santo em 2016, a fabricação de coque, de produtos derivados do petróleo e de biocombustíveis também foi a atividade industrial com o maior volume estimado de consumo de recursos hídricos em litros por segundo da indústria capixaba.

De maneira geral, percebe-se que a demanda e o consumo dos recursos hídricos no Espírito Santo estão muito concentrados na atividade econômica da irrigação e que isso leva também  a uma concentração regional do uso da água. Essa concentração regional dos maiores usuários de recursos hídricos pode ser um fator que facilite ações de racionalização do uso e a implementação de medidas para redução dos desperdícios visando o desenvolvimento sustentável do estado.

[1] Anuário de Saneamento Básico ABAR Edição 2017 disponível em: http://abar.org.br/biblioteca/?mdocs-cat=mdocs-cat-1#.

[2] Reportagem disponível em: https://www.gazetaonline.com.br/noticias/cidades/2016/09/falta-de-agua-afeta-2-8-milhoes-de-pessoas-no-espirito-santo-1013980843.html. Acessado em 23/08/2018.

Vanessa Avanci é analista de Estudo e Pesquisas do Observatório da Indústria (Ideies)
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