Findes
Cindes
Sesi
Senai
IEL

Inovação em tempos de crise: a destruição criadora e novas oportunidades


por Ednilson Silva Felipe

Nos últimos anos, muito se tem debatido sobre as novas ondas de mudanças tecnológicas ligadas a temas como Indústria 4.0, Inteligência Artificial, Internet das Coisas, etc. Também muito se tem falado sobre a inovação e como ela torna as empresas mais competitivas e mais preparadas para enfrentar grades desafios. Outras vezes, até pela história econômica recente, ouvimos falar sobre inovação em temos de crise, apontando que as crises também podem ser grandes momentos de oportunidades. Embora possa parecer uma discussão nova, esses temas já faziam parte da pesquisa de um grande pensador sobre a inovação e os temas a ela ligados: Joseph Alois Schumpeter (1883-1950).Joseph Schumpeter nos deixou uma vasta obra com quatro grandes livros mais conhecidos: A Teoria do Desenvolvimento Econômico (1911), Business cycles (1939), Capitalismo Socialismo e Democracia (1942) e História da Análise Econômica (1954). De sua obra como um todo, que tem lições fundamentais para todas as áreas da economia, queremos aqui resgatar duas: o papel das crises na economia e o processo de destruição criadora.

Sobre a problemática das crises, Schumpeter dizia que o sistema econômico não anda sempre para a frente de modo contínuo e sem tropeços. Muito pelo contrário: as crises serão recorrentes no capitalismo, seja por uma ou variadas causas. Uma crise ocorre sempre que há um conjunto de eventos extremamente desfavoráveis, de suficiente importância e que destrói todo o modo como as empresas e as pessoas vinham agindo até então. A crise é um momento extremamente complexo porque ela exige mudanças drásticas e rápidas, sem dar muito tempo de adaptação, num momento em que todos os caminhos parecem complicados. Como consequência, há um processo de retração econômica generalizada. O nível de investimentos cai abruptamente na maioria dos setores, o nível de incertezas se eleva drasticamente, os principais indicadores econômicos (câmbio, taxa de juros, índices de confiança) se tornam extremamente voláteis.

As firmas passarão a enfrentar riscos elevados nas tomadas de decisão e se depararão com problemas graves de fluxo de caixa. As pessoas passarão a enfrentar perdas de emprego, de renda e até mesmo de status social. As ‘vicissitudes’ de uma crise são severas e podem provocar, se persistentes, um esgarçamento da ordem social ora estabelecida, muitas vezes acompanhada de esgarçamento da ordem política. Nesses momentos, os sinais que o sistema econômico envia às firmas são extremamente confusos e geralmente pessimistas. A problemática é que são sinais que a firma isoladamente não terá condições de alterar. Caberá a ela, bem ou mal, se adaptar aos novos sinais. São tempos de decisões difíceis. A forma com que a crise atinge os setores econômicos e as empresas é muito diferente. A indústria não é afetada da mesma forma que os serviços; a agropecuária não é afetada da mesma forma que a produção de software. A crise de uma empresa não é a mesma da outra. A crise, quando chega, encontra as empresas em diferentes estágios, em diferentes situações financeiras e em diferentes níveis de endividamento. Logo, elas serão impactadas de formas muito diferentes umas das outras; começarão e terminarão a crise de formas muito distintas. Até por isso, os empreendedores enxergam a crise com percepções muito específicas. Mas são nos momentos de crises que as competências empreendedoras são severamente testadas.

Mas Schumpeter, essencialmente no livro de 1942, se debruçou sobre outro ponto importante: na tentativa de explicar o processo de mudança econômica, desenvolveu o conceito de destruição criadora (ou destruição criativa, como também é conhecido).

A destruição criadora, em essência, é a incessante destruição do velho e a incessante criação do novo.

Esse processo de destruição criadora é o fato essencial acerca do capitalismo. É nisso que consiste o capitalismo e é aí que tem de viver todas as empresas capitalistas. Todos os elementos da estratégia de negócios só adquirem sua verdadeira significação contra o pano de fundo desse processo e dentro da situação por ele criada. Devem ser vistos em seu papel, sob o vento perene da destruição criadora; não podem ser compreendidos a despeito dele, ou, na verdade, sob a hipótese de que existe eterna calmaria. (SCHUMPETER, 1942: 113).

Essa ideia schumpeteriana, inicialmente, passou a ser difundida para a explicação da mudança tecnológica, explicitando como o progresso tecnológico cria e destrói produtos, processos e até setores econômicos inteiros (fitas VHS, máquinas de escrever, câmeras fotográficas, etc). Mas há outras aplicações para o conceito de destruição criadora e ele opera sistematicamente na crise.

Schumpeter afirmava que as crises são, por natureza, destruidoras, mas, por outro lado, ao destruir, abrem espaços para o novo. A crise revela uma necessidade de fazer novas combinações de fatores produtivos, impulsiona novas formas de organização da firma, obriga a novas formas de tomada de decisão, impele à criação de novos conteúdos e leva as firmas a criar novos produtos, novos processos e novos serviços. Vale lembrar que tudo isso é inovação num conceito amplo: introdução de um novo produto ou serviço; exploração de um nicho de mercado; novo método produtivo; novas fontes de matéria-prima ou novas forma de organização da firma.

Mas não é um processo fácil. Inovar em tempos de crise é algo completamente fora das “rotinas”. Para ter sucesso e poder inovar nesses momentos, alguns elementos são essenciais:

  • Aumentar a capacidade analítica, ou seja, é preciso aumentar o entendimento do que é a crise, como ela afeta a economia e como afeta especificamente o setor que a empresa atua;
  • Entender o ciclo da crise, já que toda crise tem um começo, o seu período mais crítico e um fim, cada decisão só tem sentido no momento certo. É preciso saber em que parte da crise estamos, para poder agir de forma correta;
  • Sobriedade e não se deixar levar pela ansiedade, pelo mal humor e desespero, já que esses sentimentos podem levar a decisões precipitadas;
  • Eficácia, que é tomar a decisão certa no momento certo e, por fim;
  • Planejamento estratégico: se o planejamento estratégico já é importante em todos os momentos, se torna crucial no momento de crise. A existência ou não de um planejamento estratégico pode significar a possibilidade ou não de uma empresa sobreviver à crise.

A inovação, nessa ótica, não é apenas uma oportunidade no meio da crise, é a principal forma de sair dela. É necessária para retomar e alavancar o crescimento econômico combalido pela crise. Vale lembrar que serão sempre decisões difíceis, mas sem inovação, o processo de retomada econômica será mais longo e mais doloroso.

Ednilson Felipe é Pesquisador do Centro Estudos sobre o Desenvolvimento do Espírito Santo – CEPEDES e do Observatório do Desenvolvimento Capixaba

Os conteúdos e as opiniões aqui publicados são de inteira responsabilidade dos seus autores. O Sistema FINDES (IDEIES, SESI, SENAI, CINDES e IEL) não se responsabiliza por esses conteúdos e opiniões, nem por quaisquer ações que advenham dos mesmos.

1 Comment on "Inovação em tempos de crise: a destruição criadora e novas oportunidades"

  1. Ednilson, profundas e embasadas reflexões! Traz elementos importantes para a compreensão dos tempos vo
    contemporâneos!

Deixe um comentário

Seu endereço de email não será publicado.


*