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O Findeslab no ecossistema de inovação do Espírito Santo: conectando ideias para a competitividade da indústria


por Lucas Araujo

Nesta semana está sendo inaugurado o Findeslab, localizado na cobertura da sede da Federação das Indústrias do Estado do Espírito Santo (Findes), na Reta da Penha. Essa iniciativa abrigará o hub de inovação da indústria capixaba atuando no desenvolvimento de ideias e soluções industriais para o Espírito santo.

O empreendimento já reúne grandes empresas atuantes no estado como Arcelor Mittal, Vale, FortLev, ISH, Unimed, Shell e Soma Urbanismo, além do apoio de órgãos públicos como a Fapes, Companhia de Desenvolvimento, Turismo e Inovação de Vitória (CDV) e o Governo do Espírito Santo. Também já está acordado a destinação de 8 milhões de reais em recursos para desenvolvimento de novos projetos que impulsionarão a competitividade da indústria local. Assim, o Findeslab já surge com uma composição que o coloca em proeminência na produção de inovações que contribuirão para o desenvolvimento econômico e melhoria da sociedade capixaba. Como colocado por Naiara Galliani[1], Gerente de Inovação do Senai/ES:

“o Findeslab assume um importante papel de conexão no ecossistema capixaba e se diferencia em relação aos demais ambientes de inovação por ter o foco na indústria e no empreendedorismo industrial com forte experiência e atuação em desenvolvimento tecnológico. O Findeslab é o hub de inovação da indústria capixaba e apoia as empresas e empreendedores em todo o processo de inovação, dos desafios às soluções. Estruturado pela Federação das Indústrias do Estado do Espírito Santo (FINDES) e operado pelo Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial do Espírito Santo (SENAI ES), o Findeslab atua com inovação aberta, com projetos de inovação individuais e setoriais, apoio ao desenvolvimento e estruturação de spin-offs[2] e com ações estratégicas para fortalecer o ecossistema de inovação do Espírito Santo, conectando o Estado com o Brasil e o mundo.”

 Mas, para que seja entendido o papel de um investimento desse porte, é necessário responder algumas perguntas, como:

  • Qual a importância da inovação nas nossas vidas?
  • Por que incentivar as inovações nas empresas do Espirito Santo?
  • Qual a necessidade de um hub de inovações?
  • Como o Findeslab pode interagir com as instituições de fomento já existentes no estado?

E o texto que segue argumentará no sentido de responder a essas perguntas.

Inicialmente, para entender a repercussão da inovação na vida humana podemos mencionar o argumento de Dodgson e Gann (2014). Tais autores apresentam elementos que evidenciam que a vida de um camponês Italiano há 150 anos seria muito mais parecida com a vida de um camponês da Roma Antiga que com a vida de um europeu da atualidade. Nestes mesmos 150 anos ocorreram uma série de desenvolvimentos tecnológicos como o surgimento do motor à combustão, a descoberta da penicilina, a eletrificação em massa, o advento da internet que modificaram significativamente a vida da sociedade em geral. Estas e outras descobertas ocorreram mediantes a uma série de condições intrínsecas a seus ecossistemas que permitiram, não só a invenção, mas o surgimento de negócios virtuosos. Seguindo essa linha, a inovação pode ser entendida como novidades introduzidas no âmbito organizacional que gera novas soluções para a sociedade, novos mercados, além de poder atuar na redução dos custos de produção em processos de melhoria da eficiência e da competividade. Todo esse processo requer fatores sistêmicos e interativos além de um método concreto de aprendizado da sociedade envolvida.

Ademais, para constituir um ambiente inovador é necessário um aparato que combine uma infraestrutura científica-industrial-tecnológica representado por universidades, governo, empresas e instituições de fomento conectados e alinhados com propósitos definidos. Ainda é desejado que esses agentes tenham certa dinâmica evolutiva ao longo do tempo para conseguir se adaptar às mudanças corriqueiras que acontecem no mundo.

No contexto dessas mudanças, nota-se que, nos últimos anos, a economia mundial passou por um aumento sistemático do fluxo internacional de mercadorias, que rearranjou a competição entre as regiões do globo aumentando a pressão competitiva dentre elas. Essa condição atua em uma via de mão dupla, pois os agentes locais perdem algumas vantagens que poderiam ter no seu mercado local, mas ganham a possibilidade de competirem em diferentes mercados. Assim, os atores de uma localidade devem organizar seus elementos e institucionalidades internas para conseguir diferenciar seus ecossistemas de inovação e se inserir no mercado mundial. Isso compele às empresas a estabelecer processos de inovação constantes de forma criativa e interativa para valorizar as oportunidades de seu local (MYTELKA, 2000). Trazendo essa narrativa para o Espírito Santo, pode-se dizer que o estado apenas conseguirá altos níveis de competitividade se conseguir articular suas competências de forma inovadora para alcançar os mercados locais, nacionais e internacionais, por isso é importante incentivar a inovação nas empresas do estado.

Dada a importância da articulação da inovação junto ao território, para preservar as peculiaridades locais, cabe explicitar a atual infraestrutura tecnológica do Espírito Santo e como o Findeslab pode se integrar e conectar nesse ecossistema inovador. O estado tem uma universidade federal, Ufes, com três campi, Vitória, Alegre e São Mateus e uma incubadora na capital do estado. Existe também 19 Institutos Federais em diferentes municípios, com oito incubadoras[3]. Ainda há uma iniciativa privada de incubadora constituída pela TecVitória, com empresas startups já incubadas e de destaque no mercado capixaba e nacional. Tais instituições são de suma importância e dão um suporte crucial às primeiras fases do ciclo de vida das empresas e poderão se conectar ao Findeslab em etapas posteriores do desenvolvimento.

No que diz respeito a pesquisa estadual, nota-se a presença de uma série de institutos que dão suporte aos setores de atividade em que o Espírito Santo tem destaque nacional (FELIPE e RAPINI, 2011). Desses, cabe mencionar o Instituto Capixaba de Pesquisa, Assistência técnica e Extensão Rural (Incaper), o Centro de Desenvolvimento Tecnológico do Café (CETCAF), o Centro Para o Desenvolvimento Tecnológico do Mármore e Granito (Cetemag) o Centro Para o Desenvolvimento do Setor Metal-Mecânico (CDMEC) e o Centro Tecnológico das Indústrias de Confecção (Cetecon). Em relação a instrumentos de financiamentos à inovação, cabe dizer que as empresas capixabas podem acessar várias linhas existentes tanto no BNDES[4] quanto na Financiadora de Estudos e Projetos (FINEP)[5], além de fontes próprias estaduais no BANDES[6], na Fapes[7] e, no caso da municipalidade de Vitória, o Fundo de Apoio à Ciência e Tecnologia[8] (Facitec).

Neste ecossistema de inovação, o Findeslab se insere como o hub de inovação da indústria capixaba e consolida os esforços da Findes de contribuir para uma maior competitividade da indústria do estado. Ele atuará como um integrador das várias instituições locais com a indústria demandante de soluções.

Um hub de inovação atua criando conexões entre pequenas empresas inovadoras e seus potenciais financiadores. Assim, eles podem ser entendidos como um shopping center em que as pequenas empresas organizadas em torno de uma ideia de produto ou solução podem ser comparadas às lojas e as grandes e médias empresas seriam os potenciais compradores (Rodrigues, 2018). O Findeslab se propõe a ser um espaço de trabalho compartilhado por diferentes tipos de agentes que poderão trocar as suas ideias e produzir soluções em todo o processo de inovação para o setor industrial capixaba. Assim, nas palavras da Gerente de Inovação do Senai/ES, Naiara Galliani:

“o Findeslab tem o propósito de dar acesso à indústria a inovação, promovendo as conexões que potencializem o desenvolvimento de soluções de alto impacto e gerem valor para a indústria e a sociedade, envolvendo a academia, o setor produtivo, o governo, investidores e os empreendedores de forma geral que poderão ter acesso a uma rede de conhecimento, infraestrutura e recursos para desenvolvimento tecnológico e de seus negócios inovadores.”

Rodrigues (2018), ainda chama a atenção que um hub de inovação pode ser implementado em qualquer localidade desde que leve em consideração a cultura da sua cidade, interaja com as pessoas e lideranças locais, considere as grandes empresas potencialmente parceiras a filosofia de vida local e a história dos centros de pesquisa da região. É interessante observar que o Findeslab já nasce respeitando essas questões além de estar conectando parceiros relevantes no cenário produtor e inovador do estado. Contudo, cabe ressaltar que o hub de inovação se difere das incubadoras e das aceleradoras, já que ele não atua na estruturação e criação de um novo negócio e sim no direcionamento de uma solução inovadora compacto entre as partes.

Os benefícios desse novo empreendimento são inúmeros na comunidade. Para as grandes empresas já estabelecidas no território, patrocinar um “shopping de inovações” permite que elas obtenham um maior conhecimento do ecossistema local de inovação e se inteire das possibilidades de novos negócios. Os empregados dessas empresas também podem se reciclar e conectar com novas ideias trazidas pelas pequenas empresas. Ainda no lado dos empregos, nota-se que o mundo passa por uma tendência de geração de boas oportunidades de trabalho concentradas nas startups e esse tipo de empreendimento pode ser um bom impulso. Para as startups, um hub de inovação poderá contribuir no crescimento de seu negócio, bem como na interação com potenciais investidores, auxiliar na geração de empregos qualificados e no intercâmbio de mão de obra, encurtar as distâncias a tecnologias mundiais de difícil acesso e fomentar um ambiente empreendedor mais inclusivo.

A atuação do Findeslab ocorrerá em diversos projetos de inovação. Esses, serão apoiados em quatro etapas do desenvolvimento de projetos, que podem ser abordadas da seguinte forma (VIANNA, et,all, 2018):

  • Ideação e análise das ideias: concentração de especialistas e interessados para sugerir ideias para a solução de um problema já determinado no âmbito do cliente. Esta etapa serve para adequar a real demanda do comprador com a oferta do vendedor. A ideia é que as duas partes se interajam, discutam as possibilidades de aperfeiçoamentos e se conectem para o bom andamento do projeto final. Dentre os processos mais conhecidos, destaca-se o brainstorm, workshop de coocriação e o cardápio de ideias. Cabe ainda mencionar que sessões de ideação não necessariamente estão contidas no início de um projeto e podem perpassar em outras etapas dado os desafios e as necessidades de feedbacks
  • Conceito: A equipe nessa etapa deve reunir pessoas com diferentes aptidões que tenham capacidade de compreender sobre a viabilidade financeira do projeto, o entendimento estrito de como o produto poderá ser utilizado pelo consumidor e a capacidade de produção em larga escala. Munido dessas informações é criado o produto mínimo viável que reunirá as características mais elementares para a comercialização, o que exige um esforço para eliminar processos e características desnecessárias.
  • Prototipagem; A etapa consiste na entrega de um produto para a validação das etapas anteriores e os últimos ajustes antes da produção da versão final. Ocorre uma interação com o primeiro usuário que é de suma importância para responder as dúvidas de utilização, captar as melhores observações para aplicar na versão final e antecipar gargalos que possam aparecer na produção de larga escala. Caso haja problemas muito relevantes, os atores podem ainda repactuar os objetivos e voltarem para a fase de ideação ou conceituação com propósitos ainda mais direcionados. Os protótipos podem assumir algumas formas, como os protótipos de papel, os modelos de volume, uma encenação, os storyboards, os protótipos de serviços, dentre outros.
  • Produto: A última etapa realizada no Findeslab representa o desenvolvimento final do projeto que se transformará em uma solução para a indústria. Nesse sentido, cabe ressaltar o importante papel de ter diferentes agentes envolvidos para que se consiga uma maior consolidação nos contratos entre as pequenas empresas inovadoras e vendedoras de inovação e as grandes empresas compradoras e financiadoras dos projetos.

O Findeslab nasce, dessa forma, como uma instituição a preencher uma lacuna no ecossistema de inovação capixaba, cumprindo um papel em conectar diferentes atores para dinamizar a produção do estado e ser um elemento importante no ganho de competitividade da indústria local. A efetividade do empreendimento poderá ser avaliada pela quantidade e qualidade dos contratos firmados entre os grandes produtores e os fornecedores de ideias que ali se instalarão. Contudo, a governança desse hub deve ter um formato dinâmico para que se adeque e adapte aos desafios que venham a surgir no transcurso de seu funcionamento. De todo modo, cabe parabenizar a Findes e o Senai pela iniciativa que tem muito a contribuir e preenche lacunas no processo de desenvolvimento de ciência e tecnologia do Espírito Santo. Ademais, será um instrumento fundamental para auxiliar na prospecção do futuro da indústria capixaba no âmbito do projeto Indústria 2035.

 

 

Referências Bibliográficas

DODGSON, Mark.; GANN, David. Inovação. 1.ed. Editora: L&PM, 2014

FELIPE, Ednilson.; RAPINI, Márcia. A interação universidade-empresa no Espírito Santo. In: SUZIGAN, Wilson; ALBUQUERQUE, Eduardo; CARIO, Silvio. Em Busca da Inovação: interação universidade-empresa no Brasil. 1.ed. Editora Autêntica, 2011.

MYTELKA, Linn. Local Systems of innovation in a globalized world economy. Industry and innovation. v. 7, n.1, p. 15-32, 2000

RODRIGUES, Bruno. Hubs de inovação: uma nova oportunidade para o Rio de Janeiro. BNDES, Rio de Janeiro, 12/12/2018. Disponível em: https://www.bndes.gov.br/wps/portal/site/home/conhecimento/noticias/noticia/hub-inovacao-garagem

VIANNA, Maurício; et.al. Design Thinking: inovação em negócios. 2.ed. MJV Technology & Innovation, 2018.

 

[1] Agradeço a Naiara Galliani, Gerente de Inovação do Senai/ES, pelas contribuições no artigo.

[2] Negócios que surgem a partir de uma linha secundária da empresa e são estruturados em um novo empreendimento.

[3] Foram consideradas as incubadoras cadastradas no projeto Nexos do Sebrae: (http://anprotec.org.br/site/wp-content/uploads/2019/04/Lista-de-incubadoras-e-aceleradoras-credenciadas-pelo-Nexos.pdf)

[4] https://www.bndes.gov.br/wps/portal/site/home/onde atuamos/inovacao/inovacao/!ut/p/z1/04_iUlDg4tKPAFJABpSA0fpReYllmemJJZn5eYk5-hH6kVFm8T6W3q4eJv4GPv4-7uYGjj7u_p7BwQEGJk5m-l5gjQj9IBPw64iA6oAqh1P6kUZFvs6-6fpRBYklGbqZeWn5-hGZefllicmJ-foF2VGRAMw9nB8!/

[5] http://www.finep.gov.br/area-para-clientes-externo/finep-inovacao

[6] https://www.bandes.com.br/Site/Dinamico/Show/655/Apoio-a-Inovacao

[7] https://fapes.es.gov.br/

[8] http://www.vitoria.es.gov.br/cidade/ciencia-e-tecnologia

 

Lucas Araujo é  analista de Estudo e Pesquisa do Observatório do Ambiente de Negócios (Ideies).

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