Em 2019, o setor celulose e papel enfrentou um cenário internacional adverso com a redução na demanda mundial e queda no preço internacional da commodity, agravada pela crise comercial entre China e Estados Unidos. As empresas mundiais do setor optaram por reduzir o nível de produção e operar as vendas a partir dos elevados níveis de estoques. Como consequência, a produção do setor no Espírito Santo caiu -35,8% no ano passado.
Para o Espírito Santo, o setor celulose e papel é central, pois possuía 55 estabelecimentos em 2019 que empregavam 1.324 pessoas no mercado formal[1], correspondendo a 1,2% do total de empregos da indústria de transformação. Além disso, o setor corresponde a 8,0% do PIB da indústria do Espírito Santo, segundo o IAE-Findes[2].
Em março de 2020, enquanto os demais setores entravam em crise por conta das medidas de distanciamento social para combater o coronavírus, a fabricação de celulose, papel e produtos de papel iniciou uma trajetória de recuperação. No acumulado de janeiro a agosto 2020, o setor cresceu 10,3% no estado, desempenho muito acima da média nacional (0,4%) e segundo melhor resultado entre os locais pesquisados pela PIM-PF. Na comparação de agosto de 2020 contra o mesmo mês de 2019, a produção industrial avançou 45,6%.
Gráfico – Evolução do índice de produção com ajuste sazonal do Espírito Santo
(base: média de 2012 = 100)
Elaboração: Ideies/ Findes. Fonte: PIM-PF
Esse aumento da produção impactou positivamente o mercado de trabalho formal do estado. De janeiro a agosto de 2020, a fabricação de celulose, papel e produtos de papel gerou 296 vagas formais no Espírito Santo, resultado da diferença entre as 315 admissões e os 28 desligamentos. No total, o setor registrou um estoque de 1.638 empregados, aumento de 22,06% em relação a janeiro.
Outro resultado positivo é o aumento de 9,2% da quantidade exportada (toneladas) pelo setor de fabricação de celulose, papel e produtos de papel no acumulado de janeiro a setembro de 2020. Em relação ao valor exportado, esse produto sofreu uma queda de 9,5%[3]. Apenas no nono mês de 2020, a total do valor exportado pelo setor de fabricação de celulose, papel e produtos de papel foi de US$ 50,2 milhões, valor 26,1% maior que o registrado em agosto.
Os resultados positivos no setor de celulose e papel são explicados pela expansão da demanda mundial desde de meados de março de 2020. Como consequência, houve a melhora nos preços da fibra de celulose na China e pela redução dos estoques globais da fibra curta.
De acordo com o relatório do 2º trimestre de 2020 da Suzano, maior empresa do segmento no Espírito Santo, a demanda por celulose foi beneficiada, em um primeiro momento, pelo crescimento da demanda de papéis sanitários (tissue) e, ao fim do trimestre, sofreu uma desaceleração de consumo de papéis de imprimir, escrever e especialidades. As receitas líquidas da empresa[4] foram beneficiadas pela desvalorização do real frente ao dólar e pelo aumento de US$ 4/ton da celulose frente ao 1T20 do preço líquido médio da celulose (US$ 466/ton).
Além disso, no 1º semestre do ano, a empresa teve êxito na execução de estratégicas comerciais que resultou em redução significativa dos estoques. Dessa forma, a produção somente não foi maior porque a Suzano possuía níveis elevados de estoque por conta da queda do consumo de celulose em 2019. Diante desse cenário favorável, as ações da Suzano S.A teve uma valorização na BM&FBovespa.
Nos próximos meses, o setor capixaba também poderá se beneficiar do aumento da demanda de celulose na Europa, que começa a dar sinais de recuperação. E, o mercado de celulose da Ásia e do Canadá devem seguir com tendência de alta nos preços devido ao forte aumento da demanda de fibra e aumento das encomendas de livros[5].
Mas, ressalta-se que mesmo sendo beneficiada por essa melhor externa, a fabricação de celulose, papel e produtos de papel capixaba será impactada por duas paradas para manutenção no 3T20 na planta da Suzano no Espírito Santo (na Aracruz Linha A com 590 kt e na Aracruz Linha C com 920 kt).
A indústria de papelão também é uma das atividades que está se recuperando após o início da flexibilização das medidas de distanciamento social para combater o coronavírus. De acordo com dados da ABPO, a expedição de caixas, acessórios e chapas de papel ondulado no país foi de 351,2 mil toneladas em setembro, volume recorte na série história iniciada em 2005. Essa quantidade foi 15,4% maior que a registrada no mesmo mês de 2019. O volume expedido no 3º trimestre foi de 1,0 milhão de toneladas[6].
Em contrapartida, o aquecimento histórico na demanda por embalagens de papel, impulsionada pelo aumento das compras online e das entregas por delivery, está dificultando a aquisição de insumos para a produção desse produto. Esse é um ramo da atividade industrial que trabalha sob encomendas, dessa forma não faz muitos estoques. Por isso, a escassez de insumos está limitando o desempenho dessa atividade no Espírito Santo e no Brasil. Umas das principais explicações para essa limitação foi a menor produção da indústria de aparas, que foi impactada pela redução das coletas de papéis para a reciclagem, no momento de vigência de medidas de distanciamento social mais restritivas[7]. Esse segmento é responsável por boa parte da oferta de celulose fibra longa para a produção de papéis[8].
Essa recuperação do setor de celulose e papel ao longo de 2020 já era esperado desde o final de 2019. Não é à toa que no final do ano passado a Suzano divulgou o Plano de Investimentos[9] de R$ 4,4 bilhões para esse ano divididos em: manutenção (R$ 3,6 bilhões), expansão e modernização (R$ 300 milhões), aquisição e/ou formação de terras e florestas (R$ 400 milhões) e projetos em andamento nos portos em São Paulo e Maranhão (R$ 100 milhões)[10]. Posteriormente esse plano foi revisado para R$ 4,2 bilhões[11].
No Relatório Anual Suzano 2019[12], a empresa anunciou um investimento de R$ 933,4 milhões no Espírito Santo[13]. Desse total, R$ 531 milhões na expansão da base florestal (área de plantio do eucalipto). O objetivo desse investimento é reduzir o raio médio de distância entre o plantio florestais e a fábrica, o que deve reduzir a circulação de veículos transportando madeira a longas distâncias e irá aumentar a competitividade da produção de celulose capixaba. Recentemente, falta cobertura florestal próximo a planta da Suzano, o que contribuiu para a redução da produção.
Cerca de R$ 272,4 milhões serão investidos para a modernização da fábrica de celulose em Aracruz. O projeto será realizado na linha B, onde ocorrerá a substituição de parte da caldeira, que é a estrutura responsável por gerar vapor e produzir energia elétrica. Com essa mudança, a empresa pretende aumentar a quantidade produzida de eletricidade e que é injetada na rede de transmissões. Também será implementado um sistema de cristalização para a captura de cinza.
Outros R$ 130 milhões serão aplicados na construção de uma fábrica de papel higiênico da Suzano em Cachoeiro de Itapemirim[14]. O empreendimento tem previsão de inauguração por volta de janeiro de 2021 e terá a capacidade de produzir anualmente 30 mil toneladas de papel higiênico (34 milhões de rolos)[15].
Detalhamento do Relatório Suzano 2019 – Novos Investimentos
- Unidade de Aracruz (ES)
Projeto I: A fábrica será modernizada e ganhará em eficiência e competitividade, com menor impacto ambiental. O excedente de energia limpa gerada estará disponível nas redes de transmissão do sistema brasileiro.
Valor: R$ 272,4 milhões
Projeto II: Aquisições ou arrendamento de áreas rurais e plantios com a finalidade de reduzir o raio médio de distância entre os plantios florestais e a fábrica, o que resultará em benefícios operacionais e ambientais a partir da redução de veículos transportando madeira por longas distâncias.
Valor: R$ 531 milhões
- Nova unidade em Cachoeiro de Itapemirim (ES)
Projeto III: Nova unidade de conversão de tissue (papel sanitário).
Valor: R$ 130 milhões
Capacidade: 30 mil toneladas anuais em produtos acabados
Empregos: 200 empregos diretos e indiretos
Valor total investimentos da Suzano no es: R$ 933,4 MILHÕES, o que corresponde a 22% do capex total previsto para 2020 de R$ 4,2 bilhões.
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