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100 dias de Boletim Diário e 111 dias de Covid-19 no Espírito Santo


por Gabriela Vichi, Lucas Araújo e Nathan Diir

O BOLETIM DIÁRIO

Há 100 dias, em 17 de março, lançávamos o primeiro Boletim Diário sobre o Covid-19 no Estado do Espírito Santo. O Brasil e o Espírito Santo apareciam tímidos nas estatísticas ao se comparar com o resto do mundo e ninguém sabia aonde iríamos chegar (e não sabemos até hoje). Ainda não estavam traçadas as estratégias nacionais e estaduais. Muito longe disso, o sentimento à época era de extrema confusão, dúvidas e incertezas. Afinal de contas, um pouco menos de um mês antes, nós brasileiros estávamos em multidões nas ruas, como fazemos (ou fazíamos) todos os anos, curtindo o nosso carnaval. O coronavírus não passava de mais um tema para criativamente nos fantasiarmos. No entanto, três semanas depois, as escolas, as academias, os bares, as boates, o comércio, as ruas fecharam, o home office virou regra e tantas outras coisas aconteceram e continuam acontecendo.

Com o Ideies não foi diferente. Saímos de supetão para o trabalho remoto. Mas, alguns dias antes, quatro ou cinco para sermos mais específicos, já estávamos completamente envolvidos com o tema, não só pela mídia, mas também em nosso dia a dia de trabalho. Rapidamente passamos a estudar, pesquisar, ouvir, ver e produzir conteúdo diário e em diferentes frentes sobre a Covid-19. Deslocamos as nossas habilidades analíticas e técnicas para dar suporte aos tomadores de decisões sobre o que poderia ser feito para enfrentar a pandemia: auxiliamos tecnicamente os pleitos do setor produtivo, ao trazer exemplos do que estava sendo feito ao redor do mundo; produzimos conteúdos sobre a história das pandemias no mundo; estudamos e replicamos modelos epidemiológicos para o estado; alinhamos de imediato a análise de conjuntura econômica ao coronavírus; pesquisamos sobre a infraestrutura de saúde pública do estado; investigamos exaustivamente sobre como os países em estágios mais adiantados do ciclo da doença estavam retornando ao novo normal; identificamos quais eram os principais protocolos a serem seguidos; replicamos técnicas de dados para dar solidez às tomadas de decisões de quais seriam os setores que poderiam voltar[1]; e passamos a informar diariamente, à noite, a sociedade capixaba sobre a evolução da doença no mundo, no Brasil e, com uma análise mais detalhada, no Espírito Santo, por meio do Boletim Diário – Covid-19, que ontem (24/06) completou a sua centésima edição.

Com mais de 20 mil visualizações desde o seu lançamento o Boletim Diário apresenta uma boa aceitação do público, pois conta com uma informação oportuna e objetiva, que prioriza a análise gráfica, com pouco conteúdo textual e na tela do seu celular, disponível pelos diferentes grupos de WhatsApp em que o conteúdo circula, ou pelo site oficial da Findes. Ao longo dos dias, o BD (como chamamos internamente) evoluiu, em grande parte, por diversas sugestões e dicas de leitores assíduos, e ainda hoje implementamos as boas melhorias sugeridas. O layout atual foi lançado no dia 01 de maio, após vários testes e validações internas.

O Boletim Diário sintetiza parte importante de habilidades que o time do Ideies agrega: manuseio de bases de dados extensas (microdados), capacidade de contar histórias por meio dos dados, critério técnico de conteúdo e de layout, e, por fim, mas não menos importante, uma equipe engajada, que há 100 dias ininterruptos dedica algumas boas horas de suas noites para produzi-lo.

E com este propósito, apresentamos abaixo algumas análises, por meio de dados (obviamente), destes 111 dias de Covid-19 no estado do Espírito Santo, com um olhar sobre o comportamento do vírus nas diferentes regionais do Estado.

ANÁLISE ESTADUAL

Com mais de 38 mil casos registrados, o Espírito Santo é o 11º estado brasileiro com a maior incidência de casos da covid-19 (957,6 por 100 mil habitantes) e o 8º com a maior taxa de letalidade (3,80). Segundo a Secretaria de Saúde, foram realizados mais de 93 mil testes em todo o estado, destes mais de 1/3 foram confirmados pelo novo coronavírus. A capacidade da secretaria em realizar testes influencia os indicadores de incidência da doença, visto que quanto maior a capacidade de testagem, maior será o numerador das equações já que o denominador (população) se mantém inalterado. Atualmente, o estado possui 149.820 testes do tipo PCR e 12.560 testes rápidos disponíveis.

Os gráficos abaixo auxiliam na compreensão da pandemia nos últimos 111 dias. A análise é feita através da utilização dos dados conforme a data de divulgação dos infectados, mortos ou curados. Esse formato é o mesmo trabalhado pelos organismos nacionais e internacionais como o próprio Ministério da Saúde, Organização Mundial da Saúde, o European Centre for Disease Prevention and Control e também os dados da universidade americana John Hopkins. Essa última, utilizada como insumo por pesquisadores em todo o mundo.

Fonte: Boletins diários do Ideies/Findes. Elaboração própria

No final de março, o aumento do número de novos casos de Covid-19 no Espírito Santo, exigiu medidas mais restritivas de circulação de pessoas. Em maio, o Estado começou a flexibilizar algumas restrições ao funcionamento do comércio. No entanto, nesse período em diante, o número de novos casos diários poucas vezes esteve abaixo de 200 casos diários. O gráfico 1 apresenta a evolução dos novos casos diários (casos ativos + curados + óbitos) no Espírito Santo. A média móvel ajuda a entender a tendência da série histórica e ao que indica, no dia 12 de junho o estado reverteu a tendência de alta do indicador. Contudo, nos últimos 10 dias o estado registrou aumento médio diário de 0,6% nesse indicador. No 100º Boletim diário, de acordo com os dados da Sesa, o Espírito Santo possuía 38.483 casos confirmados da doença desde o primeiro caso, há 111 dias.

De forma similar, o número de mortes possui a evolução parecida com os novos casos diários (Gráfico 2). No dia 4 de junho foi registrado o segundo maior número de obtidos diários da série (53 vítimas fatais) e após o dia 7 de junho o estado inverteu a tendência de alta do número, voltando a subir após o dia 14 do mesmo mês. No dia 21 de junho o estado registrou o maior número de mortes diárias (59 vítimas fatais). O número de mortes é um indicador defasado com relação ao número de novos casos durante a pandemia, dado que as vítimas fatais ficam doentes por semanas, o que significa que a consequência de novos casos confirmados hoje só será refletida, em número de mortes, algumas semanas depois. Atualmente, o estado registrou um total de 1.463 mortes pelo novo coronavírus.

O número de curados (Gráfico 3) pela pandemia superou o número de novos casos apenas em dois dias, desde que o estado passou a registrar mais de 200 casos diários. No dia 21 e 26 de maio, registrou-se diferença positiva de 283 e 70, respectivamente, entre curados e casos diários pela Covid-19. Desde que o estado ultrapassou 800 casos da doença, o número de novos casos cresce a uma taxa média diária de 3,7%, enquanto que a de curados cresce a uma taxa média de 3,6%. O Espírito Santo acumula 22.313 pacientes curados, 58,0% do total de casos acumulados.

Importante observar ao longo da pandemia o número de casos ativos da doença (gráfico 4). O indicador revela o número de casos que estão ativos, ou seja, que não foram vítimas fatais ou curados. Esse indicador é um sinalizador mais fiel da evolução da pandemia. O número de casos ativos está atribuído os potenciais transmissores da doença, mapeados pelo estado. Além disso, é através desse indicador que podem desmembrar os futuros casos de vítimas fatais e/ou com complicações no quadro de saúde, dado que eles ainda estão desenvolvendo os sintomas.

Observa-se que no estado, o número de casos ativos apresentou tendência de queda por duas vezes. A primeira foi registrada até o final de maio e a segunda em meados de junho e vem se mantendo mais consistente que a anterior. No dado mais atualizado, o estado possui 14.707 casos ativos da doença.

Cabe ressalta ainda que, no acumulado da pandemia, o número de casos curados ultrapassou o número de casos ativos em 24 de maio (Gráfico 5). Desde então essa diferença cresce a uma taxa média diária de 24,8%. Atualmente, a diferença entre os casos curados e os casos ativos é de 7.606 pacientes.

Fonte: Boletins diários do Ideies/Findes. Elaboração própria

Com relação à capacidade do sistema de saúde, o Espírito Santo quase dobrou a oferta de leitos de UTI para tratamento da doença (Gráfico 6). No início de maio o estado contava com 390 leitos de UTI (73,1% na região metropolitana) e atualmente está disponível 662 leitos de UTI (71,9% na região metropolitana).

No início de maio, a taxa de ocupação dos leitos de UTI era de 71,2% na região metropolitana do estado e no dia 24/06 está com 84,9% de sua capacidade ocupada. Já no interior, a taxa de ocupação dos leitos era de 46,7% no início de maio e atualmente registra 73,7%. A taxa de ocupação dos leitos de UTI compõe o indicador que classifica o risco para cada município no enfrentamento da pandemia. Esse indicador é utilizado pelo Governo do Espírito Santo como apoio na tomada de decisão[2].

Fonte: Boletins diários do Ideies/Findes. Elaboração própria

ANÁLISE REGIONAL

O Novo Coronavírus já atingiu todos os municípios do Espírito Santo e nota-se um espraiamento cada vez maior para as pequenas cidades do interior do Estado. A primeira infecção do Sars-COV-2 foi identificada em Vila Velha no dia 05 de março e ficou contido na região metropolitana de Vitória até o dia 19 de março quando apareceu o primeiro caso em Linhares na região do Rio Doce. Ainda no mês de março, a doença chegou nas microrregiões Centro Sul, Central Serrana, Centro Oeste e Litoral Sul e Nordeste. Já no mês de abril foi se alastrando, respectivamente na Sudoeste Serrana, no Noroeste e por fim, no dia 11 chegou na cidade de São José do Calçado no Caparaó alcançando todas as 10 regiões capixabas. No mesmo dia 11 de abril o estado contabilizava 383 casos e bastante concentrados na Região Metropolitana de Vitória. Além disso, apenas 22 municípios apresentavam pelo menos um caso da doença. Contudo, o espalhamento da doença foi ocorrendo com uma velocidade considerável e em 30 de abril já estava presente em 51 cidades do estado, em 31 de maio já se via casos em 76 cidades e no dia 8 de junho, Ponto Belo registrou seu primeiro teste positivo fazendo com que todos os 78 municípios registrassem a presença do Coronavírus. Em relação aos óbitos, observa-se que no dia 12 de maio todas as regiões já registravam pelo menos uma ocorrência. O Centro Oeste foi a última localidade com mortes no Espírito Santo na cidade de Baixo Guandu. O quadro 1 fornece algumas informações consolidadas ao nível das regiões para o novo coronavírus e as figuras 1, 2, 3 e 4 apresenta a evolução da doença por meio de mapas coletados no Boletim do Ideies.

Um ponto para se chamar a atenção é a trajetória de evolução dos casos do novo coronavírus em direção ao interior do território capixaba. Os Boletins diários do Ideies apresentam uma informação que é de suma importância para acompanhar essa questão. Nele, é fornecido um indicador do percentual de casos compreendidos nas quatro maiores cidades do estado, Serra, Vila Velha, Vitória e Cariacica em relação ao Espírito Santo. Essa medida pode ser acompanhada pelo gráfico 8. Nota-se que no dia 19 de março, início do acompanhamento do indicador, a medida tinha um valor de 92,3% e esse chegou a 60,6% em 24 de junho, dia da publicação do centésimo boletim. O indicador iniciou sua queda mais evidente a partir do dia 15 de abril quando o 87,7% dos casos estavam concentrados na região supracitada. Isso não indica que os casos pararam de crescer na região Metropolitana de Vitória, mas, que está crescendo em maior velocidade no interior.

Em relação à taxa de crescimento geométrico de 7 dias, dado fornecido pelo Boletim Diário. Esse dado representa o aumento médio da doença na última semana tendo como referência a data final escolhida. Ele também pode ser abordado ao nível das regiões e dos municípios para entender o avanço ou não da doença em diferentes localidades do território. No dia 24 de junho, as cidades de Castelo (9,8%), Pedro Canário (9,6%) e Jaguaré (9,2%) obtiveram os maiores valores para esse indicador. Já em relação às regiões, o maior crescimento ficou por conta da Rio Doce (5,6%), da Central Sul (4,7%) e da Sudoeste Serrana (4,7%). Esse crescimento foi bem menor na região Metropolitana que obteve apenas 2,1% para essa última data. Essa última região não figura entre as três quem mais crescem no estado desde 10 de abril. Dessa forma, tal cenário apresenta um comportamento da pandemia de avanço no interior com maior intensidade que na região da capital do estado.

Fonte: Boletins diários do Ideies/Findes. Elaboração própria

Quadro 1: Dados gerais das regiões do Espírito Santo em 24 de junho de 2020

Microrregião Dia do primeiro caso Local do primeiro caso Número de caos Cidade com mais casos Incidência[3] Município com maior incidência Óbitos totais Taxa de letalidade[4]
Caparaó 11/abr São José do Calçado 820 Iúna (152 casos) 437,4 Divino de São Lourenço (1.858,74) 25 3,29%
Central Serrana 23/mar Santa Teresa 454 Santa Teresa (165 casos) 435,7 Santa Teresa (699,49) 14 3,08%
Central Sul 20/mar Cachoeiro do Itapemirim 2.111 Cachoeiro de Itapemirim (1.366 casos) 435,7 Mimoso do Sul (780,03) 57 3,36%
Centro-Oeste 27/mar São Roque do Canaã 2.175 Colatina (1.254 casos) 768,2 Colatina (1.023,68) 41 2,25%
Litoral Sul 28/mar Itapemirim 2.137 Marataízes (605 casos) 149,5 Presidente Kennedy (1.909,45) 72 3,74%
Metropolitana 05/mar Vila Velha 25.082 Serra (6.382 casos) 607,8 Vitória (1.730,48) 979 4,23%
Nordeste 29/mar São Mateus 1.068 São Mateus (539 casos) 607,8 São Mateus (538,50) 31 3,56%
Noroeste 07/abr Nova Venécia 662 Nova Venécia (256 casos) 607,8 Nova Venécia (510,88) 24 3,93%
Rio Doce 19/mar Linhares 2.362 Linhares (1.293 casos) 1976,8 João Neiva (881,93) 56 2,79%
Sudoeste Serrana 01/abr Afonso Cláudio 1.188 Marechal Floriano (330 casos) 1976,8 Marechal Floriano (1.976,76) 24 2,27%

Fonte: Boletins diários do Ideies/Findes. Elaboração própria

 

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Ao longo dos últimos 3 anos o Instituto desenvolveu as habilidades necessárias para transformar dados em informações de fácil acesso, com análises técnicas e sintéticas. Neste período temos feito isto para auxiliar o desenvolvimento do Espírito Santo. E durante a pandemia não poderia ser diferente, o artigo apresenta outras duas possibilidades de análises para além do boletim diário, que podem auxiliar a compreender a evolução do Covid-19 em nosso Estado e como ele avançou para os municípios do interior. A primeira delas trouxe uma trajetória da evolução histórica da pandemia no estado. Para isso foi utilizado uma técnica de média móvel que permitiu um acompanhamento de variáveis cruciais no ciclo da doença como novos casos diários, óbitos diários, curados diários e casos ativos amenizando os problemas de sazonalidades. Já o segundo realizou uma análise regional que permite observar o comportamento da doença no interior do estado para fornecer instrumentos de combate ao avanço do Covid-19 para o interior.

Com o boletim diário temos garantido à sociedade capixaba informações consistentes, técnicas e tempestivas sobre o Coronavírus, mas esperamos que seja um produto com os dias contados, e que possa ser utilizado, no futuro, para auxiliar a contar a história de quais foram as escolhas dos capixabas no enfrentamento da pandemia.

[1]Referimos ao ISDC (Índice Setorial para Distanciamento Controlado) para o Espírito Santo, um índice setorial, construído com base na metodologia do Índice Setorial para Distanciamento Controlado do Rio Grande do Sul presente na Nota Metodológica “COVID-19: Risco de Contágio por Ocupação no Brasil. Disponível em: https://impactocovid.com.br/nota-metodologica/risco-contagio.pdf

[2]  O Governo do Estado do Espírito Santo criou a matriz de classificação de risco com a situação do enfrentamento da crise para cada município. A atualização do mapa é realizada uma vez por semana pelo Governo do Estado. De acordo com a matriz, cada município recebe uma classificação conforme a vulnerabilidade (medida pela taxa de ocupação dos leitos de UTI) e a ameaça no enfrentamento da pandemia (medida pela combinação de cinco indicadores: coeficiente de incidência da doença a cada 100 mil habitantes do município; coeficiente de incidência do estado; taxa de letalidade, índice de isolamento; e percentual de pessoas acima de 60 anos). Mais informações podem ser acessadas nas Portarias nº 093-R de 23/05/2020 e nº 111-R de 20/06/2020 e em: https://coronavirus.es.gov.br/mapa-de-gestao-de-risco

[3] Número total de casos por 100.000 habitantes.

[4] Total de óbitos dividido pelo número total de casos.

Gabriela Vichi é Gerente do Observatório do Ambiente de Negócios do Ideies. Lucas Araújo e Nathan Diirr são Analistas de Estudos e Pesquisas do Ideies.

Os conteúdos e as opiniões aqui publicados são de inteira responsabilidade dos seus autores. O Sistema FINDES (IDEIES, SESI, SENAI, CINDES e IEL) não se responsabiliza por esses conteúdos e opiniões, nem por quaisquer ações que advenham dos mesmos.

1 Comment on "100 dias de Boletim Diário e 111 dias de Covid-19 no Espírito Santo"

  1. Parabéns pelo trabalho. A sociedade capixaba precisa de informações claras e fidedignas.

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