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Demanda por recursos hídricos da indústria de transformação capixaba


por Vanessa Avanci

A indústria é a segunda atividade econômica que mais demanda recursos hídricos no Espírito Santo, atrás da agricultura[1]. A importância da água na indústria está associada à realização de diversos tipos de usos, seja como insumo no processo de produção, seja em utilidades complementares aos seus processos (resfriamento, caldeiras etc.) e também para fins sanitários. Muito se avançou na indústria em eficiência no uso da água e na utilização de estratégias para redução do consumo por unidade produzida (CNI, 2013). Exemplos de estratégias para racionalização do uso dos recursos hídricos na indústria são: o reuso, a reciclagem de efluentes líquidos, a dessalinização, a redução de desperdícios e a economia de vapor.

Medir a demanda por recursos hídricos na indústria não é trivial. A dificuldade de se obter os valores reais do volume de água utilizado leva à utilização de medidas indiretas. Referência metodológica, o estudo “Água na Indústria” da Agência Nacional de Águas (ANA) considera a demanda de água na indústria por tipo de produto ou serviço que está sendo produzido e os processos industriais associados (ANA, 2017) para estimar coeficientes técnicos setoriais (Cnae 2.0­). Para estimar a demanda hídrica de cada setor industrial, aplicam-se os coeficientes técnicos[2] setoriais (vazões médias anuais, por empregado) aos dados da Relação Anual de Informações Sociais (Rais) – onde constam o número de empregados por setor e por município. Assim, a estimativa da demanda hídrica com essa metodologia é influenciada pelo número de empregados de cada setor.

A demanda de água é representada pela vazão de retirada que mede o volume de água captado diretamente em corpos hídricos superficiais e subterrâneos. Para buscar uma aproximação dos volumes de água retirados por tipologia industrial, a ANA (2017) considerou ainda o cálculo de duas outras classes de vazões: a de retorno e a de consumo. A vazão de consumo é a fração da água que foi captada pela indústria e que não retorna ao corpo hídrico ou ao tratamento de efluentes por ter sido incorporada no produto, evaporada ou indisponibilizada de seu ambiente para reuso ou para outros propósitos. Enquanto a vazão de retorno é um cálculo residual, dado pela diferença entre a vazão de retirada e a vazão de consumo e representa o volume de água devolvido aos corpos hídricos. A proporção entre o volume retirado e o consumido é uma característica do setor e, portanto, o retorno da água ao corpo hídrico não deve ser considerado um fim em si mesmo, dado que não há informações disponíveis sobre a qualidade da água devolvida.

No Espírito Santo, os setores com maior participação no volume de retirada de água diário, em litros por segundo[3], foram celulose e papel (31%), metalurgia (26%), e produtos alimentícios (16%), como se observa na tabela 1. Isso não implica necessariamente maior consumo de água, como visto em 2016, a fabricação de coque e de produtos derivados de petróleo, que foi o quarto em volume de retirada, apresentou a maior vazão de consumo.

Tabela 1. Vazões de retirada e consumo para as atividades industriais que possuem as maiores retiradas e consumos, 2016.

Divisão CNAE 2.0 Denominação Retirada (l/s) Consumo (l/s)
17 Celulose, papel e produtos de papel 795,76 102,59
24 Metalurgia 657,61 168,79
10 Produtos alimentícios 404,82 122,72
19 Coque, de produtos derivados do petróleo e de biocombustíveis 235,72 181,80
23 Produtos de minerais não-metálicos 131,50 54,42
14 Confecção de artigos do vestuário e acessórios 64,64 11,96
11 Bebidas 49,72 19,62
15 Prep. de couros e fabr. de artefatos de couro, artigos para viagem e calçados 40,57 7,11
20 Produtos químicos 34,98 10,17
30 Outros equipamentos de transporte, exceto veículos automotores 31,43 6,29
13 Produtos têxteis 27,11 7,00
25 Produtos de metal, exceto máquinas e equipamentos 15,92 7,45

Fonte: Rais/MTE (2016) e ANA (2017). Elaboração: Ideies/ Findes.

Ao comparar os dados da demanda por água das principais indústrias, entre os municípios capixabas, nota-se que os diferentes tipos de produtos e processos de produção utilizados influenciaram bastante as características da demanda de cada local. A demanda por recursos hídricos para fins industriais no Espírito Santo foi concentrada nos municípios de Aracruz, Linhares e na Região Metropolitana da Grande Vitória (figura 1). Nestes municípios estão localizadas indústrias que pertencem aos setores que apresentaram as maiores estimativas de demanda e de consumo de água, como celulose e papel, metalurgia, produtos alimentícios, coque e produtos derivados de petróleoe minerais não-metálicos.

Figura 1. Mapa de demanda hídrica industrial nos municípios do Espírito Santo – Vazões de retirada (l/s) em 2016

 

Fonte: Rais/MTE e ANA (2017). Elaboração: Ideies/Findes.

Os coeficientes técnicos foram definidos por tipologia industrial e não variam por município (ANA, 2017b).

 

As estimativas de vazão utilizaram coeficientes que refletem a média de demanda hídrica setorial para a indústria nacional e não correspondem aos valores exatos do uso da água por setor e município do Espírito Santo. Embora a metodologia da ANA contribua enormemente para o nosso conhecimento sobre os usos da água, ainda é importante evoluir em medidas mais precisas e que considerem as iniciativas particulares de empresas que demonstrem eficiência no uso da água e na utilização de estratégias para redução do consumo.

 

Referências

Água na indústria: uso e coeficientes técnicos / Agência Nacional de Águas. — Brasília: ANA, 2017.

Uso da água no setor industrial brasileiro: matriz de coeficientes técnicos. – Brasília : CNI, 2013.

Relação Anual de Informações Sociais ação Anual de Informações Sociais – RAIS. MINISTÉRIO do Trabalho e Emprego – MTE.

Desenvolvimento de matriz de coeficientes técnicos para recursos hídricos no Brasil: relatório final dos coeficientes técnicos de recursos hídricos das atividades industrial e agricultura. [S.l. : s.n.], Ministério do Meio Ambiente. — Brasília: MMA, 2011.

[1] No primeiro texto, publicado no dia 07/12/2018, sobre demanda hídrica do Espírito Santo foram comparados os volumes entre as atividades econômicas do estado. Acesse em: https://www.blogambientedenegocios-es.com.br/demanda-por-recursos-hidricos-setorial-no-espirito-santo/

[2] Coeficientes Técnicos para estimativa da Demanda Hídrica da Indústria de Transformação – Planilha. Dados disponíveis em: http://metadados.ana.gov.br/geonetwork/srv/pt/main.home

[3] Para facilitar a leitura, optamos por converter os volumes de m3/s para l/s, após o cálculo da vazão de retirada e de consumo, em que 1 m3 = 1000 litros.

Vanessa Avanci é analista de Estudo e Pesquisas do Observatório da Indústria (Ideies)
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