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Entenda os desafios do Espírito Santo no Ranking de Competitividade dos Estados


por Mayara Bertolani

No dia 30 de setembro foi divulgado, pelo Centro de Liderança Pública (CLP), a 10ª edição do Ranking de Competitividade do Estados. O ranking é composto por 10 pilares: Infraestrutura, Sustentabilidade Social, Segurança Pública, Educação, Solidez Fiscal, Eficiência da Máquina Pública, Capital Humano, Sustentabilidade Ambiental, Potencial de Mercado e Inovação; e por 86 indicadores. Em 2021, os estados mais bem posicionados foram: São Paulo (1º); Santa Catarina (2º); Distrito Federal (3º); Paraná (4º) e Espírito Santo (5º). Os três últimos colocados foram Pará, Acre e Roraima.

O Espírito Santo se manteve na 5ª colocação, destacando-se positivamente em pilares como Solidez Fiscal (1º) e Eficiência da Máquina Pública (1º). O estado se destacou em indicadores destes pilares, obtendo o melhor desempenho (1ª colocação) na Regra de Ouro (limites de endividamento para o pagamento de despesas) e no Índice de Transparência. Além disso, alcançou o segundo melhor desempenho em Índice de Liquidez e Gasto com Pessoal.

Em Inovação, o Espírito Santo obteve uma evolução importante, ocupou a 9ª colocação e subiu 4 posições entre 2020 e 2021. Esta evolução se deu, principalmente, devido ao indicador de Bolsa de Mestrado e Doutorado, o qual o estado subiu 15 posições em relação ao ano de 2020, alcançando a 4ª colocação. Este indicador analisa a proporção de discentes de pós-graduação beneficiados pela Bolsa CNPq, CAPES ou FAPES.

Os grandes desafios do Espírito Santo consistem nos pilares de Potencial de Mercado (27º posição), Capital Humano (18º) e Segurança Pública (14º). Nos indicadores destes pilares, por exemplo, o estado obteve a 27ª posição em Taxa de Crescimento do PIB, a 17ª posição em Custo da Mão-de-Obra e a 23ª posição em Segurança Patrimonial.

Análise do pilar Potencial de Mercado

Dentre os 10 pilares do Ranking de Competitividade dos Estados, o Espírito Santo apresentou o pior desempenho em Potencial de Mercado, ocupando a última posição entre as Unidades da Federação (caindo 4 posições entre 2020 e 2021). Neste pilar são considerados 3 indicadores:

  1. Tamanho de Mercado, que mensura o nível do Produto Interno Bruto (PIB);
  2. Crescimento Potencial da Força de Trabalho, medido pela média da taxa de crescimento da PIA para os próximos 10 anos (população com idade entre 15 e 64 anos).
  3. Taxa de Crescimento, calculado através da média móvel de quatro períodos para a taxa de crescimento anual do PIB real;

O desempenho do Espírito Santo neste pilar se deu, principalmente, pelo resultado no indicador Taxa de Crescimento do PIB que foi de -1,7%, segundo o cálculo do Ranking de Competitividade dos Estados. É importante ressaltar que este indicador considera a média das variações do PIB real dos últimos 4 anos (2017 a 2020), sendo as taxas de 2017 e 2018 as últimas divulgadas oficialmente pelo IBGE e as de 2019 e 2020 estimadas pela Tendências Consultoria[1]

De acordo com o Indicador de Atividade Econômica (IAE-Findes), os efeitos adversos da pandemia da Covid-19, sentidos a partir do 2º trimestre de 2020, contribuíram para que a atividade econômica capixaba encolhesse 4,4% em 2020, em relação a 2019.

O indicador Tamanho de Mercado sofreu um redutor em seu peso dentro do pilar em razão do critério de ponderação, evitando assim que os maiores estados em termos de PIB – como, por exemplo, São Paulo, que possui mais de três vezes o tamanho do Rio de Janeiro, que é o segundo maior estado – adquiram uma vantagem excessiva no ranking como um todo, por conta de um único indicador.

Este pilar é importante, tendo em vista que estados com economias mais dinâmicas compõem um dos critérios levados em consideração na decisão de localização de investimentos das empresas, favorecendo a competitividade. Além disso, o ritmo de crescimento da população em idade de trabalho estabelece um dos principais determinantes do crescimento potencial de longo prazo.

Análise do pilar Capital Humano

 Outro desafio do Espírito Santo consiste no desempenho do pilar Capital Humano, que avalia o nível educacional da população que está no mercado de trabalho e a relação com a produtividade local. Neste pilar, o estado caiu 4 posições entre 2020 e 2021, ocupando a 18º colocação. São considerados 4 indicadores neste pilar:

  1. Custo de Mão de Obra, que é o Rendimento médio nominal de todos os trabalhos, habitualmente recebido por mês, pelas pessoas de 14 anos ou mais de idade, ocupadas na semana de referência, com rendimento de trabalho;
  2. PEA com Ensino Superior, isto é, Percentual de pessoas de 14 anos ou mais de idade, na força de trabalho, com ensino superior completo;
  3. Produtividade do Trabalho, medido através do PIB total pela média de horas efetivamente trabalhadas em todos trabalhos das pessoas de 14 anos ou mais de idade;
  4. Qualificação dos Trabalhadores, que são os anos de estudo médio das pessoas de 14 anos ou mais de idade ocupadas.

Custo de mão de obra é o indicador deste pilar com maior peso, o qual o Espírito Santo obteve a 17ª posição entre as unidades da federação. Enquanto no estado o rendimento médio nominal do trabalho é de R$ 2.243, no Maranhão (1º) é de R$ 1.411 e no Piauí (2º) é de R$ 1.496[2].

Em relação ao percentual de pessoas de 14 anos ou mais de idade com ensino superior, o estado caiu 6 posições entre 2020 e 2021, posicionando-se em 13º lugar. Atualmente, apenas 20,3% das pessoas com 14 anos ou mais de idade, que estão na força de trabalho, possuem ensino superior completo, enquanto no Distrito Federal, que ocupou a 1ª posição neste indicador, 38,5% da população economicamente ativa possuem ensino superior completo.

O baixo nível de qualificação da mão de obra é um dos principais gargalos ao desenvolvimento econômico e social de uma localidade. Embora este pilar não esteja entre os de maiores pesos (8,2%), tendo em vista a complementariedade com o pilar educação (11,2%), ele abrange indicadores que são relevantes para a tomada de decisão de investimentos por parte das empresas.

Análise do pilar Segurança Pública

Apesar de ter evoluído 1 posição entre 2020 e 2021, o Espírito Santo ocupa a 14º posição neste pilar, que considera 9 indicadores:

  1. Atuação do Sistema de Justiça Criminal, mensurada através da População prisional acusada de homicídio em relação ao número de homicídios;
  2. Presos sem Condenação, calculado através da proporção de presos sem condenação em relação ao total de presos;
  3. Déficit Carcerário, que é a relação da população prisional pelo total de vagas;
  4. Mortes a esclarecer, calculado a partir dos Óbitos por causas externas a partir de “Eventos cuja intenção é indeterminada” por 100 mil habitantes;
  5. Mortalidade no Trânsito, que são os Óbitos por acidentes em transporte terrestre em relação a 100 mil habitantes;
  6. Morbidade no Trânsito, ou seja, o número de internações provocadas por acidente de transporte terrestre em relação a 100 mil habitantes;
  7. Segurança Pessoal, mensurada através da Taxa de Mortes Violentas Intencionais em relação a população total;
  8. Segurança Patrimonial, que são os Roubos totais por 100 mil habitantes;
  9. Qualidade da Informação de Criminalidade, isto é, a Qualidade estimada dos registros estatísticos oficiais de Mortes Violentas Intencionais.

Dentre os indicadores deste pilar, Segurança Pessoal possui a maior importância relativa, que mede a taxa de mortes violentas, como homicídios, o qual o Espírito Santo posicionou-se na 17ª posição. Além disso, o estado apresentou 6,5 mortes a esclarecer por 100 mil habitantes (20ª posição) e 791 roubos por 100 mil habitantes (23ª posição, ou seja, proporcionalmente é o 5º estado com mais roubos do Brasil).

A segurança pública é condição fundamental para o bem-estar social e a competitividade dos Estados, além de expressar o funcionamento das instituições do Estado. Vale ressaltar que este pilar recebe o maior peso (13,5%) entre 10 pilares temáticos que constituem o ranking.

A melhoria da competitividade local dos municípios do Espírito Santo

Pensando na melhoria do Ambiente de Negócios e da competitividade dos municípios do Espírito Santo e nas oportunidades de desenvolvimento econômico local, o Ideies, instituto vinculado à Findes, lançou em 2019 a primeira edição do IAN (Indicador de Ambiente de Negócios). Por ser uma ferramenta com robustez teórica e estatística e compilar várias informações estratégicas municipais em um único espaço, o IAN é considerado um instrumento confiável de informação para o gestor público municipal capixaba, para o empresário e para a sociedade.

Através dos seus 4 eixos, 10 categorias e 39 indicadores, o IAN tem como finalidade auxiliar na elaboração de estratégias de melhoria da qualidade das políticas públicas e nas decisões de investimentos, atendendo tanto o poder público como também potenciais investidores e a sociedade civil. A edição do IAN 2021 será lançada em breve, com dados e a evolução para os 78 municípios do Espírito Santo. Aguarde!

[1] Considerando os principais indicadores estaduais de alta frequência e a especialização econômica de cada estado.
[2] O Ranking de Competividade dos Estados considera que quanto maior o indicador Custo da Mão de Obra, pior é o seu resultado. No entanto, entendemos que é relativa a definição da polaridade deste indicador, visto que quanto maior a remuneração média da população, maior o mercado consumidor local, o que também gera benefícios para o potencial de mercado, além disso, uma remuneração mais elevada pode estar associada ao fato dos trabalhadores locais terem maior nível educacional e capacitação. Por outro lado, uma remuneração mais elevada, pode impactar negativamente nos custos dos empresários.

Mayara Bertolani é Mestre em Economia pela UFES e Analista do Ideies.

Os conteúdos e as opiniões aqui publicados são de inteira responsabilidade dos seus autores. O Sistema FINDES (IDEIES, SESI, SENAI, CINDES e IEL) não se responsabiliza por esses conteúdos e opiniões, nem por quaisquer ações que advenham dos mesmos.

1 Comment on "Entenda os desafios do Espírito Santo no Ranking de Competitividade dos Estados"

  1. Olá Mayara. Após ler seu texto, fiquei refletindo sobre a economia do ES, e resolvi colocar no papel. A economia do ES está fortemente baseada na exploração de matéria prima do solo – minério, aço, petróleo e rochas ornamentais. São as commodities comercializadas para o mercado externo, principalmente a China. Essas são as fontes principais do PIB capixaba. É um modelo econômico assentado em matérias primas não renováveis, que não agregam valor aos produtos.O contexto econômico e geopolítico mundial atual exige a produção de conhecimento alicerçado em conhecimento científico e tecnológico. O ES não pode depender eternamente da exploração e venda de commodities. Para ser competitiva dentro do cenário internacional, a economia capixaba necessita, através do poder público e de seu empresariado, repensar sua base econômica, conservando o expertise adquirido na exploração de commodities, mas ao mesmo tempo refletindo e atuando nesse novo cenário mundial que surge com os avanços tecnológicos em todos os setores. O ES, por ser um estado pequeno territorialmente, em comparação com os outros estados do sudeste, teria, teoricamente, mais condições de criar um ecossistema favorável à inovação tecnológica, e o governo do Estado poderia ser o indutor dessa mudança. Não esquecendo que investimento em educação de qualidade é primordial para o aumento e manutenção de empregos nesse novo cenário que está batendo à nossa porta. Grato pela atenção em ler.

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