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Portal de Ambiente de Negócios – como chegamos até aqui?


por Gabriela Vichi

Há um ano recebi o desafio de liderar a equipe de reestruturação do projeto do portal de Indicadores do Ambiente de Negócios para o Estado do Espírito Santo. E após uma longa e intensa jornada, lançamos hoje o Portal do Ambiente de Negócios, onde é apresentado o IAN – Indicador de Ambiente de negócios para cada um dos 78 municípios do Espírito Santo.

A Federação das Indústrias do Espírito Santo (Findes) tem definido como uma de suas estratégias prioritárias, em seu mapa de navegação, a melhoria do ambiente de negócios do estado. E o Ideies se propôs a participar deste projeto, por meio da construção de um portal de indicadores em que a sociedade pudesse ter acesso a informações claras e objetivas sobre o ambiente de negócios dos municípios do Estado.

A partir deste propósito iniciamos a nossa jornada, foram vários passos até chegarmos ao dia de hoje.

O primeiro passo foi definir o que entendíamos como Ambiente de Negócios e assim definir o que queríamos medir. Isso foi feito, por meio de grupos de estudo com equipe técnica envolvida embasados na leitura de bibliografia pertinente.

Passamos a entender que o Ambiente de Negócios abrange o ciclo de vida das empresas perpassando pela criação de novos negócios, crescimento e consolidação no mercado. Estas fases estão relacionadas com atividades que acontecem dentro do território e, a depender como se desenrolam, podem contribuir ou dificultar os empreendimentos locais.

Ao definir o Ambiente de Negócios, precisávamos identificar quais os indicadores que melhor poderiam mensurá-lo, o 2º passo, então, foi estudar todas as metodologias existentes que de alguma forma buscavam medir a competitividade, nível de empreendedorismo, nível de gestão eficiente dos diferentes territórios. Nesse momento ainda não tínhamos restringido o olhar apenas para o nível municipal, com isso, estudamos e listamos os indicadores de, pelo menos, oito diferentes metodologias:

  • Doing Business (BANCO MUNDIAL, 2017);
  • Índice de Cidades Empreendedoras (ENDEAVOR, 2017);
  • Ranking de Competitividade dos Estados (CLP, 2018);
  • Melhores Cidades para Fazer Negócios (URBAN SYSTEM (a), 2018);
  • Smart Cities (URBAN SYSTEM (b), 2018);
  • Global Competitive Index (FÓRUM ECONÔMICO MUNDIAL, 2018);
  • Índice de Desafio da Gestão Municipal (MACROPLAN, 2018); e o
  • Índice Firjan de Gestão Fiscal (FIRJAN, 2017).

Após a leitura dos relatórios técnicos identificamos padrões nessas metodologias, em termos de repetição de indicadores, o que nos auxiliou a definir, ainda teoricamente, quais os eixos que faziam sentido para a construção dos indicadores de ambiente de negócios. Assim chegamos nos 4 eixos que definem o IAN: Infraestrutura, Potencial de Mercado, Capital Humano e Gestão fiscal.

Com a definição inicial dos eixos e a listagem de todos os indicadores, iniciamos o passo 3, ou seja, filtramos e separamos todos os indicadores que seriam passíveis de serem replicados em nível municipal, chegamos em um total de 104 indicadores e também os catalogamos, ainda sem critério estatístico, apenas sobre o aspecto teórico em qual eixo cada indicador iria pertencer.

O passo 4 seguiu com a estruturação da base de dados, ou seja, consolidar os 104 indicadores para os 78 municípios do Espírito Santo, considerando o último ano de referência de cada base de dados acessada. Nessa etapa, acessamos mais de 30 diferentes fontes de dados e construímos um banco com mais de 8.000 variáveis.

O passo 5 foi longo e exaustivo. Quando iniciamos o processo de seleção de quais indicadores individuais de fato iriam compor a agregação do IAN e em qual eixo cada um iria pertencer, conforme critérios estatísticos e teóricos. Nesse momento foi necessário estudar as metodologias estatísticas de construção de indicador composto e o benchmarking principal foi o manual da OCDE[1]. Removemos indicadores individuais pelo volume de dados ausentes (missing), por excesso de outliers, pela falta de variabilidade dos dados, por ausência de consistência na técnica de análise multivariada, por falta de definição consensual da polaridade do indicador e etc.. Assim, chegamos em 39 indicadores distribuídos em 4 eixos e 10 categorias.

[1] OCDE. Handbook on constructing composite indicators: methodology and user guide. Paris, 2008. 162p.

Figura 1 – Eixos, categorias e quantidades de indicadores do IAN

Naquele momento, tínhamos metade do trabalho concluído. Na época, parecia que já estávamos na reta final, mas ainda tínhamos alguns passos a percorrer.

Seguimos para o passo 6 de agregação e ponderação dos resultados. Nessa etapa tínhamos que decidir a melhor forma de ponderar os indicadores individuais dentro das categorias, por conseguinte nos eixos, e no IAN. Poderíamos ponderar pela análise estatística, por meio de análise teórica, um combinado dos dois, ou por ponderação paritária. Fizemos diversas reuniões com a equipe técnica envolvida, e com a análise e consistência dos dados obtidos, optamos pela ponderação proporcional a quantidade de indicadores nas categorias e paritária nos eixos e no IAN.

Concomitante ao processo de seleção dos dados tínhamos que definir como iríamos visualizá-lo, e este foi um dos grandes diferenciais do IAN. Chamarei neste momento de passo 7, mas esta foi uma angustia que já estava mapeada desde as fases iniciais do projeto, porque queríamos apresentar indicadores para os 78 municípios do ES, mas, ao mesmo tempo, não seria justo comparar Ponto Belo com Vitória, Apiacá com Cachoeiro de Itapemirim e etc. Portanto, decidimos que os municípios deveriam se comparar em grupos semelhantes, ou seja, municípios que tivessem as mesmas condições socioeconômicas, independentemente da posição regional. Para isso fizemos o processo de clusterização, considerando como variáveis de controle o IDHM, o Índice de Gini, a microrregião e a população.

Agora tínhamos os resultados, os clusters formados, a base de dados consolidada e revisada, mas tínhamos que construir o portal. Com ajuda de uma equipe técnica multidisciplinar, economistas, estatísticos, designer e TI, montamos o Portal de Ambiente de Negócios, priorizando a visualização do município por cluster. Permitindo que o usuário olhe os seus indicadores sempre relativos ao cluster que ele participa. Assim, ele terá uma comparação mais justa e poderá, com maior clareza, traçar uma estratégia de melhoria e priorização de política pública e também identificar gargalos que são de competência das outras esferas administrativas, como a federal e estadual. Visto que, quando for o caso, está identificado no indicador a qual esfera ele compete.  Afinal de contas, o IAN nasce como uma ferramenta de diagnóstico da situação do ambiente de negócios, ou seja, se propõe a sinalizar, como um farol, os fatores que influenciam a melhoria do ambiente de negócio daquele município. Foi com esta visão que cumprimos o passo 8 e construímos o portal que está sendo lançado hoje.

Sempre preocupados em dar credibilidade ao trabalho que estava sendo desenvolvido, decidimos que o IAN teria como prioridade o princípio da transparência. Ao longo de todos os passos fomos catalogando, registrando, escrevendo, pesquisando e com isso construímos os 5 produtos que estão disponíveis para download no portal:

  1. Diagnóstico personalizado sobre o ambiente de negócios do município: apresenta de forma sucinta e didática a situação de ambiente de negócios do município, auxiliando na identificação dos principais gargalos que deverão ser priorizados para uma melhoria das condições de seu ambiente de negócios.
  2. Referencial teórico e estatístico: apresenta todo o detalhamento teórico e estatístico para a construção do IAN, com o intuito de garantir a transparência da metodologia aplicada.
  1. Fichamento dos indicadores: apresenta as informações gerais para cada um dos indicadores – definição, interpretação e uso, limitações, metodologia de cálculo simplificado (equação utilizada), unidade de medida, escala, desagregação geográfica, periodicidade, início da série, período de referência, fonte, desagregação disponível, parâmetros e recomendações, informações complementares, forma de disponibilidade do indicador, eixo e categoria.
  2. Base de dados: apresenta os resultados do IAN e dos seus quatro eixos para os 78 municípios do Espírito Santo.
  3. Plano de Melhoria do Ambiente de Negócios para os Municípios do Espírito Santo – Fase 1 – Diagnóstico: consiste em um diagnóstico em que se apresenta os resultados dos clusters para o IAN e os seus respectivos eixos. São apontados os destaques positivos e negativos de cada eixo para cada cluster construído, no nível das categorias. O documento ainda traz uma síntese de informações gerais dos municípios, além de um conjunto de boas práticas criteriosamente selecionadas de melhorias no ambiente de negócios já realizadas no Espírito Santo e no Brasil.

Mas não paramos por aqui, construímos um excelente ferramental de diagnóstico, mas como poderíamos ajudar o gestor público a dar os primeiros passos para fazer diferente? Foi assim que iniciamos o passo 9 e mapeamos alguns bons exemplos de boas práticas relacionados aos eixos do IAN e de diferentes portes de municípios brasileiros. O mapeamento foi feito de forma sistemática e contínua, buscando boas práticas consagrados entre especialistas, institutos de pesquisas e entidades públicas e privadas. Foram investigados leis, decretos, sites, notas técnicas, livros e artigos de pesquisadores de referência para os distintos temas.

Por fim, precisávamos apresentar o projeto as nossas personas, mostrar que o portal e todo o material desenvolvido a partir dele foram construídos como uma ferramenta de auxílio na gestão pública, com potencial para priorização e definição de estratégias para a melhoria do ambiente de negócios. Com isso, iniciamos o passo 10 e angariamos parceiros para o nosso projeto, como a Endeavor que foi um dos nossos principais benchmarkings, a Associação dos Municípios do Espírito Santo – Amunes, o governo do Estado, o Tribunal de Contas do Estado e a Assembleia Legislativa.

E o desafio que assumi há um ano atrás só avançou, porque contei com o apoio de uma equipe engajada, que abraçou a ideia do projeto e fizemos juntos isso acontecer. Contamos também com o apoio de uma gestão que sempre nos questionou e nos fazia refletir e voltar atrás quando não trilhávamos os passos da melhor maneira possível.

Hoje, ao lançar o IAN, encerramos um ciclo desta trajetória, mas iniciamos um novo, que será o de apresentar detalhadamente todas as potencialidades de diagnóstico que o portal oferece ao gestor público municipal e estadual, aos empresários e a sociedade capixaba. E pretendemos consolidar o trabalho com a atualização anual da ferramenta para que os usuários consigam visualizar como o seu município evoluiu.

Gabriela Vichi é gerente do Observatório do Ambiente de Negócios do Ideies

Os conteúdos e as opiniões aqui publicados são de inteira responsabilidade dos seus autores. O Sistema FINDES (IDEIES, SESI, SENAI, CINDES e IEL) não se responsabiliza por esses conteúdos e opiniões, nem por quaisquer ações que advenham dos mesmos.

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